quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Carmina Priapea


                            14 (VI)

Quod sum ligneus, ut vides, Priapus
et falx lignea ligneusque penis,
prendam te tamen et tenebo prensum
totamque hanc sine fraude, quantacunque est,
tormento citharaque tensiorem
ad costam tibi septimam recondam.

Conquanto de pau feito - imagem dc Priapo que estás vendo –
e embora a foice seja, também, . feita de pau, bem como o pénis,
capaz sou de agarrar-te e ter-te fortemente dominado.
Então (nem será crime…), esta bisarma toda, avantajada
de cítara qual corda, ou de balista o cabo, ‘inda mais tesa,
no cu te enterrarei, até a costela  sétima tocar.

                           15 (XXIII)
Quicunque hic violam rosamve carpet
furtivumque holus aut inempta poma,
defectus pueroque feminaque
hac tentigine, quam videtis in me,
rumpatur, precor, usque mentulaque
nequiquam sibi pulset umbilicum.


Quem quer que colha aqui ou rosa ou violeta,
ou leve uma hortaliça ou fruto não comprado,
rapaz seja ou mulher, o deixo derreado:
com toda esta tesão, que manifesta vedes,
rebentarei seu corpo, e juro que o caralho,
com toda a impunidade, o umbigo atingirá.

                            16 (XLIV)

Nolite omnia, quae loquor, putare
per lusum mihi per iocumque dici.
deprensos ego ter quaterque fures
omnis, non dubitetis, irrumabo


Não cuideis que isto tudo que vos digo
o digo só por graça e a brincar
Terceira ou quarta vez ladrão que apanhe,
por certo tende que o hei-de embrochar.

                            17 (XLVII)
Quod partem madidam mei videtis
per quam significor Priapus esse,
non ros est, mihi crede, nec pruina,
sed quod sponte sua solet remitti,
cum mens est pathicae memor puellae.


O humor que estás a ver no órgão do meu corpo
plo qual todos conhecem ser eu o deus Priapo,
não é orvalho, não, nem crede quo geada,
mas algo quo segrega por sua própria força,
à mente se me vem a imagem duma puta.

                           18 (LXXVIII)

At di deaeque dentibus tuis escam
negent, amicae cunnilinge vicinae,
per quem puella fortis ante nec mendax
et quae solebat impigro celer passu
ad nos venire, nunc misella Landice  
vix posse iurat ambulare prae fossis.


Que os deuses e as deusas recusem aos teus dentes alimento,
ó torpe mineteiro da minha boa amiga e vizinha.
Por tua causa só, mulher outrora forte e escorreita,
que usava vir correndo aos braços meus com passo saltitante,
agora, desgraçada, queixando-se do grelo amargamente,
diz mal poder andar, que tanto não consente o órgão cavo.

                            19 (IX)
Cur obscaena mihi pars sit sine veste, requirens
quaere, tegat nullus cur sua tela deus.
fulmen habens mundi dominus tenet illud aperte;
nec datur aequoreo fuscina tecta deo.
nec Mavors illum, per quem valet, occulit ensem;
nec latet in tepido Palladis hasta sinu.
num pudet auratas Phoebum portare sagittas?
clamne solet pharetram ferre Diana suam?
num tegit Alcides nodosae robora clavae?
sub tunica virgam num deus ales habet?
quis Bacchum gracili vestem praetendere thyrso,
quis te celata cum face vidit, Amor?
nec mihi sit crimen, quod mentula semper aperta est:
hoc mihi si telum desit, inermis ero.


Perguntas porque tenho as partes pudibundas descobertas.
Sabendo fica então que nenhum deus esconde os próprios dardos:
o deus do universo o raio tem, que aperta em mão segura;
ao deus do mar foi dado tridente, não porém pra que o escondesse;
nem esconde Marte a espada, da sua fortaleza testemunho;
nem Palas tem guardada, na tepidez do seio, sua lança.
Acaso cora Febo de as setas resplendentes exibir?
Acaso as escondidas Diana vês a aljava transportar?
Acaso tapa Alcides (*) a maça de carvalho com seus nós?
Acaso o deus alado (* *) a vara sob a túnica conserva?
Quem viu Baco jamais co’a veste o grácil tirso disfarçar?
Jamais alguém te viu, a ti, Amor, co’a face rebuçada?
Portanto, não me acuses, por sempre a mostra ter este caralho:
tal dardo se me falta, não mais terás que um deus de arma privado.

(*) Hercules.
(**) Hermes.


                           20 (XXXIII)

Naidas antiqui Dryadasque habuere Priapi,
et quo tenta dei vena subiret, erat.
nunc adeo nihil est, adeo mea plena libido est,
ut Nymphas omnis interiisse putem.
turpe quidem factu, sed ne tentigine rumpar,
falce mihi posita fiet amica manus.


Tempo houve em que os Priapos co’as Náiades e Dríades brincavam:
do deus a verga tesa podia consolar-se.
Agora nada tenho, e a ponto tal estou cheio de desejos,
que as Ninfas todas cuido já terem perecido.
A minha acção é torpe, mas por que não rebente de tesão,
depondo já a foice, da amiga mão me sirvo.

                           21 (LIV)

CD si scribas temonemque insuper addas,

qui medium volt te scindere, pictus erit.

Escreve lá CD; por cima, uma rabiça lhe acrescenta:
aquele que te fende aí tens desenhado.


                           22 (LIX)
Praedictum tibi ne negare possis:
si fur veneris, inpudicus exis.


Aviso aqui te fica, que o não negues:
Se vens como ladrão, vais paneleiro.
                          
                           23 (LVI)

Derides quoque, fur, et impudicum
ostendis digitum mihi minanti?
heu heu me miserum — quid ista lignum est
quae me terribilem facit videri?
mandabo domino tamen salaci,
ut pro me velit irrumare fures.

Ladrão, ‘inda te ris das ameaças,
o dedo malcriado me mostrando? (*)
Ó misero de mim, que e de pau feito
aquilo que me dá um ar temível.
Porém, direi ao dono (ele é lascivo...)
que embroche em meu lugar todo o ladrão.
(*) Já os antigos costumavam fazer o gesto do digitus impudicus., i. é, com o dedo médio estendido e os dois do lado dobrados.

                           Petrónio (?), frg. 54

Foeda est in coitu et brevis voluptas
et taedet Veneris statim peractae.
Non ergo ut pecudes libidinosae
caeci protinus irruamus illuc
(nam languescit amor peritque flamma);
sed sic sic sine fine feriati
et tecum iaceamus osculantes.
Hic nullus labor est ruborque nullus;
hoc iuvit, iuvat et diu iuvabit;
hoc non deficit incipitque semper.

Do coito o gozo é breve e sem pudor,
e mal passa o prazer, já aborrece.
Assim, como animais libidinosos,
não nos lancemos, cegos, lá nos sítio,
pois mal o ardor languesce, morre a chama;
mas antes, em infinda e doce calma,
na cama quero estar contigo aos beijos:
esforço não fazemos, não coramos,
e o que agradou, agrada e agradará,
nem desfalece o ardor, mas recomeça.


                          Petrónio, frg. 33
Aurea mala mihi, dulcis mea Martia mittis,
mittis et hirsutae munera castaneae.
Omnia grata putem, sed si magis ipsa venire
ornares donum, pulcra puella, tuum.
Tu licet apportes stringentia mala palatum,
tristia mandenti est melleus ore sapor.
At si dissimulas, multum mihi cara, venire,
oscula cum pomis mitte ; vorabo libens.

                    
Ó minha doce Márcia: maçãs doiradas mandas entregar-me,
e mandas-me um presente do hirsuto castanheiro.
Tudo isso me é jucundo; porém, se me chegasses também tu,
teu dom enfeitarias, formosa rapariga.
E mesmo que me desses maçãs que ao paladar não agradassem,
na boca, o azedo gosto em mel se verteria.
Porém, se não queres vir, mulher quo sobre todas me és querida,
c’os pomos manda beijos: com ardor os comerei.

                          C. I. L., IV, 1516

Hic ego nunc futui formosam forma puellam
laudatam a multis, sed lutus into erat.


Aqui, agora mesmo, mulher fodi de grande formosura,
de muitos tão gabada, mas merda lá por dentro.





Tradução de Custódio Magueijo em 
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975

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