terça-feira, 16 de novembro de 2010

O hermafrodita

------
------
------
AD MATRONAS ET VIRGINES CASTAS

Quæque ades, exhortor, procul hinc, Matrona, recede:
Quæque ades, hinc pariter, virgo pudica, fuge.
Exuor, en bracis jam prosilit inguen apertis,
Et mea permulto Musa sepulta mero est.
Stet, legat et laudet versus Nichina procaces,
Adsueta et nudos Ursa videre viros.


ÀS MATRONAS E ÀS VIRGENS CASTAS

Sejas tu quem fores, Matrona, vai para bem longe; e tu também, pudica Virgem, foge. Dispo-me, da braguilha aberta sai o meu pénis; a minha Musa está desfeita pelo excesso de bebida. Quinina pode ficar, ela que leia e gabe os versos lascivos; Ursa também, habituada como ela a ver homens nus.



EPITAPHIUM NICHINÆ FLANDRENSIS, SCORTI EGREGII

Si steteris paulum, versus et legeris istos,
Hac gnosces meretrix quæ tumulatur humo.
Rapta fui e patria teneris pulchella sub annis,
Mota proci lacrymis, mota proci precibus.
Flandria me genuit, totum peragravimus orbem,
Tandem me placidæ continuere Senæ.
Nomen erat, nomen notum, Nichina; lupanar
Incolui, fulgor fornicis unus eram.
Pulcra decensque fui, redolens et mundior auro,
Membra fuere mihi candidiora nive.
Quæ melior nec erat Senensi in fornice Thais
Gnorit vibratas ulla movere nates.
Rapta viris tremula fìgebam basia lingua.
Post etiam coitus oscula multa dabam.
Lectus erat multo et niveo centone refertus,
Tergebat nervos officiosa manus.
Pelvis erat cellæ in medio, qua sæpe lavabar,
Lambebat badidum blanda Catella femur.
Nox erat, et juvenum me sollicitante caterva
Substinui centum non satiata vices.
Dulcis, amœna fui, multis mea facta placebant,
Sed præter pretium nil mihi dulce fuit.


EPITÁFIO A NIQUINA DE FLANDRES, CORTESÃ FAMOSA

Se parares um instante e leres estes versos, saberás quem é a cortesã que aqui debaixo está enterrada. Na tenra idade, deixei a minha Pátria, levada pelas lágrimas do amante, arrastada pelas suas preces. Nasci na Flandres, peregrinei por todo o mundo, por fim descansei na tranquila Siena. O meu nome era Niquina, nome famoso; estive em lupanares, fui o esplendor dos bordéis. Fui bela e agradável, perfumada e mais limpa que o ouro, com os membros mais brancos que a neve. No bordel de Siena, nenhuma Thaïs mexia melhor as nádegas do que eu. Com a língua vibrante dava beijos inflamados aos homens e até após o sexo, dava muitos beijos. O meu leito estava cheio de níveos tecidos, e a minha mão industriosa acalmava os nervos. Havia no quarto uma bacia em que frequentemente me lavava, uma cadelita mansa lambia a minha coxa húmida. Uma noite, tendo-mo pedido um grupo de jovens, aguentei uma centena de assaltos, sem ficar saciada. Fui doce e agradável, a muitos agradava a minha maneira de ser, mas a mim, nada me dava prazer, se não o dinheiro.



OPTAT PRO NICHINA DEFUNCTA

Oro tuum violas spiret, Nichina, sepulcrum,
Sitque tuo cineri non onerosa silex.
Pieriæ cantent circum tua busta puellæ.
Et Phœbus lyricis mulceat ossa sonis.


FAZ VOTOS PELA FALECIDA NIQUINA

Desejo, ó Niquina, que o teu sepulcro tenha o odor de violetas. E que sobre os teus restos não esteja uma pesada pedra. Que as jovens Piérides cantem em redor da tua tumba. E que Febo com os seus líricos cânticos acaricie os teus ossos.


De:
Hermaphroditus, de Antonio Beccadelli (Palermo, 1394 – Nápoles, 1471), dito o Panormita, isto é, Palermitano

sábado, 6 de novembro de 2010

O hermafrodita

------
------
------

AD AURISPAM DE URSÆ VULVA

Ecquis erit, vir gnare, modus, ne vulva voracis
Ursa testiculos sorbeat usque meos
Ecquis erit, lotum femur hæc ne sugat hirudo,
Ne prorsus ventrem sugat ad usque meum?
Aut illam stringas quavis, Aurispa, medela,
Aut equidem cunno naufragor ipse suo.


A AURISPA, SOBRE A CRICA DE URSA

Haverá algum modo, homem sábio, para que a vulva voraz de Ursa não engula os meus testículos? Um meio para que esta sanguessuga não sugue toda a minha coxa, e em seguida me sugue também o meu ventre? Não importa como, Aurispa, encolhe-a, ou certamente irei naufragar na sua crica.




AURISPÆ RESPONSIO

Si semper tantus spirare in æquore fœtor,
Neminis ut nasus littora ferre queat,
Quis vel in Adriaco, Scythico quis navita posset,
Aut in Tyrrheno naufragus esse mari?
Et tu ne timeas; nam cum magis arrigie Ursæ,
Cumve magis cupias, vulva repellet olens.
Hæc fiat ita horrendum, quod pingue et putre cadaver
Ursæ cum cunno lilia pulcra foret.
Hæc flat ita, ut, merdis si quisquam conferat inguen,
Sit violæ et suaves multa cloaca rosæ.
Sin tuus hunc talem non horret nasus odorem,
Ut sit tunc vulva strictior Ursa dabo.



RESPOSTA DE AURISPA

Se sempre exala das ondas um fedor tal que nenhum nariz pode tolerar o mar, qual o barqueiro que irá naufragar no mar Adriático, no Cítico ou no Tirreno? E tu não temas, pois, quanto mais anseias por Ursa, quanto mais a desejas, mais a sua natureza pútrida te repele. Ela emana um odor tão nauseabundo que um cadáver gordo e já podre, em comparação com a vulva de Ursa, é um lírio perfumado. Ela emana um fedor tal, que comparada aos excrementos, a cloaca transforma-se em violetas e rosas suaves. Se o teu nariz não rejeita um tal odor, procurarei então tornar mais estreita a crica de Ursa.


De:
Hermaphroditus, de Antonio Beccadelli (Palermo, 1394 – Nápoles, 1471), dito o Panormita, isto é, Palermitano

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O hermafrodita

------
------
------
DE URSA SUPERINCUBANTE

Quum mea vult futui superincubat Ursa priapo;
Ipse suas partes subtineo, illa meas.
Si juvat, Ursa, vehi, moveas clunemque femurque
Parcius, aut inguen non tolerabit onus.
Deinde cave reduci repetas ne podice penem:
Quamvis, Ursa, velis, non mea virga volet.



Sobre Ursa montada a cavalo

Quando a minha Ursa quer divertir-se, monta-se em mim: ela faz o meu papel e eu o dela. Por favor, Ursa, agita o traseiro e as coxas com jeitinho, senão o meu membro dobra-se com o peso. Depois, não puxes de novo a verga para a tua gruta: mesmo que tu, Ursa, o quisesses, ela não o quereria.


De:
Hermaphroditus, de Antonio Beccadelli (Palermo, 1394 – Nápoles, 1471), dito o Panormita, isto é, Palermitano