sábado, 12 de julho de 2014


In colonias brasilienses, vel sodomitas a Lusitanis missos in Brasiliam


Descende cœlo turbine flammeo
Armatus iras, Angele, vindices,
        Libidinum jam notus ultor
        Exitio Sodomæ impudicæ.

En rursus armis quod pereat tuis
Lustrum Gomorrhæ suscitat semulum
        Syrum propago, et exsecrandæ
        Spurcitiæ renovat palæstram.

Pars ista mundi, quam sibi propriam
Sedem dicavit mollis amœnitas
        Luxusque, sub fœdis colonis
        Servitium tolerat pudendum.

Abominandis arsit amoribus
Strigosus æstu, pauperie et fame,
        Glandis vorator, virulentum
        E raphanis redolens odorem.

Quem, rere, ponet nequitiæ modum
Frenis libido libera? et insolens
        Humanioris ferre victus
        Illecebras meliore cœlo?

O Christiani infamia nominis!
O fœda labes et nota temporum!
        O turpium turpisque causa, et
        Exitus, et pretium laborum!

Ignota rostris verrimus æquora,
Gentes quietas sollicitavimus
        Terrore belli, orbisque pacem
        Miscuimus misero tumultu.

Per ferrum et ignes et mare naufragum
Secreta rerum claustra refregimus,
        Ne deesset impuris cinædis
        Prostibulum Veneris nefandæ.

Gens illa nullos mitis in hospites,
Et ora victu assueta nefario,
        Portenta conspexit Cyclopum
        Sanguinea dape fœdiora.

Nunc Scylla sævos exsere nunc canes,
Nunc nunc Charybdis vórtice spumeo
        Convolve fluctus, et carinas
        Flagitiis gravidas resorbe.

Aut hisce tellus in patulos specus,
Ætherve flammis perde sequacibus
        Turpes colonos, Christianæ
        Dedecus opprobriumque terræ.



Contra as colônias brasileiras ou sodomitas 


Baixa do céu em rubro turbilhão 
Armado, ó Anjo, de ira vingadora, 
Punidor já conhecido da luxúria 
Na assolação da impúdica Sodoma. 

Eis que de novo (pereça ele sob tuas armas!) 
A linhagem dos Sírios ergue um alcouce 
Que Gomorra arremeda, 
E renova a academia da abominável sujeira. 

Essa parte do mundo, que a mole deleitação 
E luxúria destinaram como sua própria morada, 
Sob infames colonos suporta 
Vergonhosa servidão. 

Esmirrado co’ a canícula, a pobreza e a fome 
Abrasou‐se em amores abomináveis 
O comilão de glande, que fede ao peçonhento 
Bodum dos rábãos. 

Cuidas que porá algum freio ao desbragamento 
A sensualidade livre e solta? E nada afeita 
A sentir os amavios de uma vida mais civilizada 
Sob um céu melhor? 

Ó vergonha do nome cristão! 
Ó indigno labéu e mancha do nosso tempo! 
Ó infame causa das infâmias,  
Das canseiras prêmio e fruto infame! 

Co’ as proas singramos mares ignotos, 
Inquietamos tranquilos povos co’ o terror da guerra  
E com triste alvoroço 
Perturbamos a paz do mundo. 

Cruzando as águas procelosas, a ferro e fogo 
Quebrantamos os secretos ferrolhos da Natura, 
Para que aos impuros sodomitas não faltasse 
Um bordel de amor nefando. 

Aquele povo nada afável co’ os forasteiros 
E aquelas bocas costumadas a mantença abominável, 
Contemplou monstruosidades mais asquerosas 
Que os sanguinosos manjares dos Ciclopes. 

Agora, ó Cila, mostra agora os ferozes cães, 
Agora, Caríbdis, faz girar as vagas  
Em remoinhos de espuma, e traga as naus 
Pejadas de ignomínia. 

Ou abre‐te em largas fendas, ó terra, 
Ou, ó ar, reduz a cinza com incessantes chamas 
Os infames colonos, desdouro e opróbrio 
Da cristandade. 


Tradução do Prof. Doutor António Guimarães Pinto, da Universidade Federal do Amazonas, em "O Brasil do século XVI na poesia novilatina do escocês George Buchanan" na Revista Ágora. Estudos Clássicos em Debate 14 (2012) 243‐284 — ISSN: 0874‐5498, da Universidade de Aveiro.  

sexta-feira, 11 de julho de 2014



BRASILIA

George Buchanan (1506 - 1582)

Africa deseritur, miles mendicat egenus,
Vi sine tuta fugax oppida Maurus habet.
Accipit obscœnos Brasilia fusca colonos,
Quique prius pueros foderat, arva fodit,
Qui sua militibus tollit, dat rura cinædis,
Jure sub adverso nil bene Marte gerit.




                       Brasil 

Abandona‐se a África, o soldado na penúria pede esmola e 
sem esforço o poltrão Mouro se apossa dos castelos. 
O trigueiro Brasil recebe impudicos colonos, e quem antes 
encabara mocinhos, campos cava. 
Quem aos soldados tira as suas, terras dá aos fanchonos: 
contrariando o que é justo, não é bem sucedido na guerra. 



Tradução do Prof. Doutor António Guimarães Pinto, da Universidade Federal do Amazonas, em "O Brasil do século XVI na poesia novilatina do escocês George Buchanan" na Revista Ágora. Estudos Clássicos em Debate 14 (2012) 243‐284 — ISSN: 0874‐5498, da Universidade de Aveiro.