quarta-feira, 13 de novembro de 2013

CARMINA, DE CATULO






                    V


Vivamus, mea Lesbia, atque amemus,
Rumoresque senum severiorum
Omnes unius aestimemus assis.
Soles occidere et redire possunt:
Nobis cum semel occidit brevis lux,
Nox est perpetua una dormienda.
Da mi basia mille, deinde centum,
Dein mille altera, dein secunda centum,
Deinde usque altera mille, deinde centum.
Dein, cum milia multa fecerimus,
Conturbabimus illa, ne sciamus,
Aut nequis malus invidere possit,
Cum tantum sciet esse basiorum.




 
Gozemos a vida, Lésbia, fazendo amor,
desprezando o falatório dos velhos puritanos.
A luz do sol pode morrer e renascer
mas a nós, quando de vez e nos apaga a breve luz da vida,
resta-nos dormir toda uma noite sem fim.
Beija-me mil vezes, mais cem;
outras mil, outras cem.
Depois, quando tivermos ajuntado muitos milhares,
vamos baralhá-los, perdendo-lhes a conta,
para que nenhum invejoso, incapaz de contar beijos tantos,
possa mau-olhado nos lançar (*)

 
(*) Segundo a superstição mágica, os malefícios do mau-olhado só se concretizariam no caso de ser possível a contagem exacta dos beijos.  (NOTA DO TRADUTOR).
 
  

               

                      VI

Flavi, delicias tuas Catullo,
Nei sint inlepidae atque inelegantes,
Velles dicere, nec tacere posses.
Verum nescioquid febriculosi
Scorti diligis: hoc pudet fateri.
Nam te non viduas iacere noctes
Nequiquam tacitum cubile clamat
Sertis ac Syrio fragrans olivo,
Pulvinusque peraeque et hic et ille
Attritus, tremulique quassa lecti
Argutatio inambulatioque.
Nam nil stupra valet, nihil, tacere.
Cur? non tam latera ecfututa pandas,
Nei tu quid facias ineptiarum.
Quare quidquid habes boni malique,
Dic nobis. volo te ac tuos amores
Ad caelum lepido vocare versu.



 
Flávio, se a tua amante não fosse destituída de encantos e elegância,
tu não serias capaz de silenciar,
e a Catulo dela falarias.
Andas, na verdade, enleado a não sei que febril michela.
Tens vergonha de confessá-lo.
Ora que não passas as noites sozinho,
clama-o, embora calado, teu leito,
rescendente a grinaldas e a perfume sírio,
e por igual os amachucados travesseiros,
O gemer balouçante de teu leito desengonçado.
Pois de nada vale deboches ocultar.
E porquê? Não terias os flancos tao emaciados pela fornicação,
se não praticasses loucuras.
Va, conta-me as horas boas e más!
Glorificar-te em verso faceto quero,
a ti e à tua favorita.



Tradução de J. Lourenço de Carvalho em 
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975

  

Sem comentários:

Enviar um comentário