segunda-feira, 11 de novembro de 2013

CARMINA, DE CATULO



                    XVI


 Pedicabo ego vos et inrumabo,
Aureli pathice et cinaede Furi,
Qui me ex versiculis meis putastis,
Quod sunt molliculi, parum pudicum.
Nam castum esse decet pium poetam
Ipsum, versiculos nihil necessest,
Qui tum denique habent salem ac leporem,
Si sunt molliculi ac parum pudici
Et quod pruriat incitare possunt,
Non dico pueris, sed his pilosis,
Qui duros nequeunt movere lumbos.
Vos, quom milia multa basiorum
Legistis, male me marem putatis?

Pedicabo ego vos et inrumabo.




O Aurélio brochista, ó Fúrio paneleiro,
a vós que, sendo meus leves versos voluptuosos, por eles devasso me julgastes,
eu vos hei-de enrabar e embrochar.
Ora se um autêntico poeta casto deve ser,
não é força que seus versos o sejam.
Estes afinal sabor e encanto hão-de ter,
se forem galantes e nada cândidos,
e capazes de aguilhoar desejos,
não digo nos moços, mas nesses pilosos
que não podem já os engrunhidos rins mover.
Vós, lá porque lestes muitos milhares de beijos,
acaso me considerais falto de virilidade?
Pois hei-de-vos enrabar e embrochar.

                   
                    XXI



Aureli, pater essuritionum,
Non harum modo, sed quot aut fuerunt
Aut sunt aut aliis erunt in annis,
Pedicare cupis meos amores.
Nec clam: nam simul es, iocaris una,
Haeres ad latus omnia experiris.
Frustra: nam insidias mihi instruentem
Tangem te prior inrumatione.
Atque id si faceres satur, tacerem:
Nunc ipsum id doleo, quod essurire,
A me me, puer et sitire discet.
Quare desine, dum licet pudico,
Ne finem facias, sed inrumatus.


Aurélio, ó pai das fomes,
não só das de agora, mas de quantas existiram,
existem ou existirão em anos futuros,
tu queres enrabar o meu favorito.
E nem disfarças, pois não o largas: juntos brincais,
colado a sua ilharga, de tudo lanças mão.
Embalde. Antes de ciladas rae dispores,
te há-de a minha porra a boca atafulhar.
Se o fizesse com a barriga cheia, eu calava-me;
agora o que me dói é que o meu moço
tenha de aprender a suportar a fome e a sede.
Anda lá, desiste enquanto é possível sem escândalo,
não aconteça que tenhas de acabar, mas embrochado. 



                    XXV




Cinaede Thalle, mollior cuniculi capillo
Vel anseris medullula vel imula oricilla
Vel pene languido senis situque araneoso,
Idemque Thalle turbida rapacior procella,
Cum diva munerarios ostendit oscitantes,
Remitte pallium mihi meum, quod involasti,
Sudariumque Saetabum catagraphosque Thynos,
Inepte, quae palam soles habere tamquam avita.
Quae nunc tuis ab unguibus reglutina et remitte,
Ne laneum latusculum manusque mollicellas
Inusta turpiter tibi flagella conscribillent,
Et insolenter aestues velut minuta magno
Deprensa navis in mari vesaniente vento.



Talo, ó paneleiro, mais mole que pêlo de coelho,
que medula de ganso, que lóbulo de orelha,
que a porra flácida dum velho e que uma teia de aranha;
ó tu, que és ao mesmo tempo mais rapinante que a túrbida procela,
quando a lua os putanheiros bocejantes alumia,
restitui o manto quo me roubaste
e o lenço de Sétabis e os bordados da Bitínia,
que tens o hábito de ostentar, imbecil, como bens de família.
Desgruda-mos já das tuas unhas e devolve-os,
para que chicotadas queimantes te não marquem de indignidade
o brando flancozinho e as delicadas mãozinhas,
e não estues insólito como frágil barquito
por um vento raivoso em mar grosso apanhado. 




Tradução de J. Lourenço de Carvalho em 
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975

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