I, 97
Si non molestum est teque non piget, scazon, 
Nostro rogamus pauca verba Materno 
Dicas in aurem sic ut audiat solus. 
Amator ille tristium lacernarum 
Et baeticatus atque leucophaeatus, 
Qui coccinatos non putat viros esse 
Amethystinasque mulierum vocat vestes, 
Nativa laudet, habeat et licet semper 
Fuscos
colores, galbinos habet mores. 
Rogabit,
unde suspicer virum mollem. 
Una
lavamur: aspicit nihil sursum, 
Sed
spectat oculis devorantibus draucos 
Nec otiosis mentulas videt labris. 
Quaeris quis hic sit? Excidit mihi nomen. 
Se a coisa te
não maça ou enfastia, escazonte (*), 
eu te peço, ao
meu caro Materno estas breves palavras 
diz ao ouvido,
de modo que apenas ele as oiça. 
Aquele
apreciador de capotes sombrios, 
que se veste de
lã e de trajes cinzentos, 
que chama aos
que usam roupas vermelhas maricas 
e acha os
tecidos cor de ametista próprios de mulheres, 
por mais que
gabe as vestes simples,
e sempre use 
sombrias cores, é
esverdeado nos costumes. 
Por que o julgo
invertido?, perguntarás tu. 
Tomamos banho
juntos: nunca olha para cima, 
mas com olhos
vorazes contempla os paneleiros 
e cresce-lhe a água
na boca ao ver caralhos. 
Queres saber
quem é ele? Já me escapou seu nome (**) 
(*) Escazonte é o tipo de verso em que
está escrito este epigrama. O poeta dirige a palavra, portanto, ao próprio poema.
(**) Esta expressão tem duplo sentido. O poeta
pode querer dizer 1— já esqueci o seu nome; ou 2 — lá deixei escapar o seu
nome, oculto em qualquer vocábulo usado no poema. A tentativa de reconstituição
desse nome, alias duvidosa, só poderá, naturalmente, fazer-se em presença do
texto latino. 
                            II, 4
O quam blandus es, Ammiane, matri!
Quam blanda est tibi mater, Ammiane! 
Fratrem te vocat et soror vocatur. 
Cur vos nomina nequiora tangunt? 
Quare non iuvat hoc quod estis esse? 
Lusum creditis hoc iocumque? Non est: 
Matrem,
quae cupit esse se sororem,
Nec
matrem iuvat esse nec sororem. 
Ó
Amiano, como és terno para a tua mãe, 
e
como é terna para ti a tua mãe, Amiano! 
Ela
chama-te “irmão”, e tu chamas-lhe “irmã 
Por
que razão vos excitam esses nomes ambíguos? 
Por
que não ser apenas o que de facto sois? 
Achas
que isso não passa de brincadeira? Engano. 
Quando
uma mãe pretende ser tida por irmã, 
é
porque não quer ser nem irmã nem mãe! 
                              II, 62
Quod pectus, quod crura tibi, quod bracchia vellis, 
Quod cincta est brevibus mentula tonsa pilis: 
Hoc praestas, Labiene, tuae - quis nescit? - amicae.
Cui praestas, culum quod, Labiene, pilas?
Tu
depilas o peito, as pernas e os braços, 
à
volta do caralho cortas o pêlo curto, 
Para
agradar, Labieno (quem o ignora?), à tua amante. 
Mas
a quem queres tu agradar, Labieno, ao depilar o cu? 
                               III, 51
Cum
faciem laudo, cum miror crura manusque, 
Dicere, Galla, soles 'Nuda placebo magis,' 
Et semper vitas communia balnea nobis.
Numquid, Galla, times, ne tibi non placeam?
Quando
gabo teu rosto, quando exalto tuas pernas, tuas mãos, 
dizes-me
sempre, Gala: Toda nua, ainda mais te agradarei!
Recusas-te,
porém, a banhar-te comigo.
Recearás
tu, Gala, que eu não seja do teu agrado? 
                              III, 53
Et voltu poteram tuo carere 
Et collo manibusque cruribusque 
Et mammis natibusque clunibusque, 
Et, ne singula persequi laborem,
Tota te poteram, Chloe, carere 
Não
me faz falta teu rosto,
nem
teu colo, mãos ou pernas, 
nem
mamas, nalgas ou cu. 
Não
irei dar-me ao trabalho 
de
citar tudo, Cloé:
não
me fazes falta tu!
Tradução de José António Campos em 
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
Sem comentários:
Enviar um comentário