quarta-feira, 11 de novembro de 2009

José Agostinho de Macedo (1761 – 1831)



Apenas conheço um libelo mais deprimente e difamatório (do que a Zamperineida), contra uma actriz portuguesa.

É um raro folheto de sete páginas, composto pelo padre José Agostinho de Macedo, em paródia ao Elogio que foi escrito pelo popularíssimo autor da farsa Manuel Mendes, António Xavier Ferreira de Azevedo, e recitado por Mariana Torres, no teatro da rua dos Condes, em noite de benefício seu.

O padre José Agostinho mantinha então relações íntimas com a actriz Maria Inácia da Luz, que no mesmo teatro pretendia competir com Mariana Torres, amante de António Xavier.

A rivalidade das duas artistas acirrou a rivalidade entre os dois autores, que se travaram em pugna escandalosa, da qual derivaram, por parte do padre, as Cartas de Manuel Mendes Fogaça e as Paleadas e, por parte de António Xavier, a comédia “O mau amigo”, de que José Agostinho era reconhecidamente protagonista, caracterizado em flagrante semelhança.

Nunca este desbragado escritor foi mais sujamente pornográfico do que na verrina metrificada com que zurziu a pobre Mariana Torres.

Pode fazer-se ideia das lágrimas que a malferida actriz, desaprumada angustiosamente dos seus artifícios de comediante, havia de chorar longe das vistas dos colegas e do púbico.

Este renhido pleito entre as duas actrizes e os dois autores, por ser questão entre portugueses, impressionou menos a opinião pública do que qualquer outro facto em que houvessem intervindo artistas estrangeiros.


Alberto Pimentel, Zamperineida, Lisboa,  Livraria Central de Gomes de Carvalho, editor, 158, Rua da Prata, 160
1907






Paródia ao elogio que em a noite do seu beneficio recitou a primeira actriz do teatro da rua dos condes, Mariana Torres, feita pelo P. J. A. de Macedo.
Preço 60 reis sem estampa e com estampa, 80 reis.
Copiada no anno de 1818.

NOTA

Os Versos que levam este sinal “ são os que compõem o Elogio, de que foi autor António Xavier. E os que rimam, e formam a Parodia, do dito J. A. de Macedo.

DO COPISTA

P A R Ó D I A

“Acabei de fingir, sou outra agora
Sempre fui puta e pareci Senhora
“Leis ao Carácter meu, ali mandavam
Que desse o Parrameiro aos que pagavam
“Que sem Catarina ser, Catarina fosse
Que a todos desse do meu Cono a posse

“Aqui perto da Cena, e longe dela
De mais de cem mil Cães, eu fui Cadela

“Falando em frente a vós: Carácter novo
Tomo de puta, respeitável Povo
“Gritando do coração verdade pede
Tenho tão podre a Pássara que fede
“À cena da ilusão correu-se o pano
Vinde, ó Picas; entrai no imenso cano
“Eu do novo Teatro, Actriz sou nova
Dou-vos agora, novo Cono à prova
“Congresso Benfeitor, pincéis Divinos
Entrai todos em mim, grossos e finos
“Com as tintas do Céu, o Céu copiam
Nunca os Colhões, batendo se amaciam.
“Mas um tosco pincel, com tintas rudes
De leite vaza em mim, quarenta almudes

“Lísia que é quase um Céu, pintar não pode
Meu Cú, ligeiro quando o Cono fode
“Afoito sobre o ar deixando o mundo
A maior Porra em mim, nunca achou fundo
“Águia soberba, às nuvens vai sumir-se
Tenho um marido, que lhe custa a vir-se
“E enquanto implume, tímido volátil
O maior Caralho me foi portátil

“Mal furta o suco à flor, se a flor debruça
E a Porra nestas mãos se escarapuça
Sobre a terra que a deu o cálice doce
Nunca amigo enjeitei fosse qual fosse.
“Tal eu Congresso Ilustre ainda tremendo
De grande coça que levei fodendo
“Avisto, haveis pincéis traçar prodígios
Com dois irmãos fodi, ambos remígios
“A quem vejo sem medo ao pédos astros,
E lá fodi com Pintos, e com Castros
“E enquanto rastejando sobre a terra
Às bolsas todas declarar guerra.

“Nem sei reger, nem solto voos,
Mas cavalgam-me Ethontes e Pirôos,
“Quem mérito não tem, louvor não lucra
Isto conheço eu bem, filhos da puta
“Mas quem chega ante vós pobre de tudo
Acha um Caralho grosso, e cabeçudo
“Se eu pudera na Cena resoluta
Ser qual em casa sou, ralaça puta,

“preceitos manejar, seguir trilho
Eu mexeria o Cú como um sarilho
“No jogo das paixões ser toda amor
Aumentaria ardentes fodedores
“Das fúrias no rancor ser quase inferno
Fartando do meu Cono, o ardor interno

“Trazer o Espectador após meu grito
Que um Caralho visto e infinito

“E fazê-lo dar ais se em ais soltasse
Quando do leite toda me banhasse

“Era justo o louvor porque era paga
Ficasse embora o Cú como uma chaga

“Mas se eu nada posso, e lucro tanto
Quando fornico sem rebuço, e manto
“Devo pagar a glória que me emprestam
Bordas em carne viva isto protestam,
“E a paga que vos dou é ser-vos grata
Quando o preço da foda é oiro e prata.
“É curta a oferenda, porque a dona é pobre
Verdade seja já fodi por cobre;

“Porém este penhor vale um tesouro
Por amor disto meu marido é Touro.
“Pois sendo extenso o mundo, é raro havê-lo
Manso como ele, dos Cabrões modelo.

“Congresso benfeitor, quanto vos devo
Inda paga maior pedir me atrevo.

“O oiro que me dais não vai sumir-se
Paguem, primeiro, se quiserem vir-se.

“Em deleite, em fausto, em jogo, ou luxo
Tudo quanto fodi meto no bucho.

“Vai património ser da prole minha
Porque sempre emprenhei quando me vinha.

“Dos caros filhos meus que inda no berço
Lá ficam pela Avó, rezando o terço
“Antes que de seus pais o nome aprendam
E os pais de todos entre si contendo

“Há-de a mãe ensinar-lhe o vosso,
E a ensinar filhas a foder já posso
“Nome de Benfeitor, que é Pai, que é tudo.
Eu do exercício do Coirão não mudo.

“De tantos corações que o mundo encerra
Inda há Caralhos que me façam guerra.

“Cabe a mil benfazejos um só grato
Eu no rebolo me fadigo, e mato

“É este o cabedal de que sou rica
Sou para todos; nunca enjeitei pica.

“É este o que vos dou, que é quanto posso
E peço a todos um Caralho grosso.

Vos plaudite.

N.B. Se este Folheto merecer atenção dos Amigos de gastarem o pataco, cedo aparecerá a Segunda parte.
Data: 1812.

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