I,
24
Invitas nullum nisi cum quo, Cotta,
lavaris
Et dant convivam balnea sola tibi.
Mirabar, quare numquam me, Cotta,
vocasses:
Iam scio, me nudum displicuisse tibi.
Não
convidas ninguém, Cota, senão os que contigo se banham,
escolhes
os teus convivas dentro dos balneários.
Espantava-me
eu, ó Cota, que nunca a mim me convidasses.
Já
percebi: quando nu, não sou do teu agrado!
I,25
Aspicis incomptis illum, Deciane,
capillis,
Cuius et ipse times triste supercilium,
Qui
loquitur Curios adsertoresque Camillos?
Nolito fronti credere: nupsit heri.
Estás
a ver, Deciano, aquele tipo de cabelos desgrenhados,
de
que tu próprio temes o cenho carregado,
que
só fala dos Cúrios e dos Camilos, esses heróis de outrora?
Não
te fies no seu aspecto: ainda ontem fez de noiva!
I,35
Incustoditis
et apertis, Lesbia, semper
Liminibus
peccas nec tua furta tegis,
Et plus spectator quam te delectat
adulter
Nec sunt grata tibi gaudia si qua
latent.
At meretrix abigit testem veloque
seraque
Raraque Submemmi fornice rima patet.
A Chione saltem vel ab Iade disce
pudorem:
Abscondunt spurcas et monumenta lupas.
Numquid
dura tibi nimium censura videtur?
Deprendi veto te, Lesbia, non futui.
Sem
guarda à porta, com os batentes escancarados, ó Lésbia,
é
que te apraz fazer amor, acto que nunca escondes.
Dá-te
mais gozo um espectador do que um amante,
e
não te dão prazer os prazeres que se ocultam.
Até
a meretriz se esconde, corre a cortina e fecha a porta,
e
nem por uma greta se vislumbra o interior do prostibulo.
Aprende
a ter pudor ao menos com Quíone ou com Íade:
até
um túmulo serve para esconder tão reles putas.
Acaso
te parece excessiva a minha censura,
Lésbia?
Acho
bem que forniques, em público é que não!
I,36
Versus scribere me parum severos
Nec quos praelegat in schola magister,
Corneli, quereris: sed hi libelli,
Tamquam coniugibus suis mariti,
Non possunt sine mentula placere.
Quid si me iubeas talassionem
Verbis dicere non talassionis?
Quis Floralia vestit et stolatum
Permittit meretricibus pudorem?
Lex haec carminibus data est
iocosis,
Ne possint, nisi pruriant, iuvare.
Quare
deposita severitate
Parcas lusibus et iocis
rogamus,
Nec castrare velis meos
libellos.
Gallo turpius est nihil Priapo.
Que
sejam os meus versos pouco sérios,
tais
que o mestre os não pode ler na escola,
tu
lamentas, Cornélio. Porém, os meus livrinhos,
tal
como as suas consortes os maridos,
não
podem sem caralho dar prazer.
Como
escrever lascivo canto nupcial
sem
usar lascivos termos nupciais?
Quem
com traje de jogos florais, as meretrizes
permite
que tenham seriedade de matronas?
Estes
ligeiros poemas a uma lei obedecem:
apenas
dão prazer se forem excitantes.
Por
isso dá ao demo a
seriedade,
não
condenes, te peço, as minhas brincadeiras,
e
tira da ideia castrar os meus livrinhos.
Nada
há mais torpe que um Príapo capado!
Tradução de José António Campos em
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
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