V
Vivamus, mea Lesbia,
atque amemus,
Rumoresque senum
severiorum
Omnes
unius aestimemus assis.
Soles
occidere et redire possunt:
Nox
est perpetua una dormienda.
Da
mi basia mille, deinde centum,
Dein
mille altera, dein secunda centum,
Deinde
usque altera mille, deinde centum.
Dein,
cum milia multa fecerimus,
Conturbabimus
illa, ne sciamus,
Aut
nequis malus invidere possit,
Cum tantum sciet esse
basiorum.
Gozemos a vida,
Lésbia, fazendo amor,
desprezando o
falatório dos velhos puritanos.
A luz do sol
pode morrer e renascer
mas a nós,
quando de vez e nos apaga a breve luz da vida,
resta-nos dormir
toda uma noite sem fim.
Beija-me mil
vezes, mais cem;
outras mil,
outras cem.
Depois, quando
tivermos ajuntado muitos milhares,
vamos
baralhá-los, perdendo-lhes a conta,
para que nenhum
invejoso, incapaz de contar beijos tantos,
possa mau-olhado
nos lançar (*)
(*) Segundo a superstição mágica, os
malefícios do mau-olhado só se concretizariam no
caso de ser
possível a contagem exacta dos beijos. (NOTA DO TRADUTOR).
VI
Flavi,
delicias tuas Catullo,
Nei
sint inlepidae atque inelegantes,
Velles
dicere, nec tacere posses.
Verum
nescioquid febriculosi
Scorti
diligis: hoc pudet fateri.
Nam te non viduas iacere
noctes
Nequiquam tacitum cubile
clamat
Sertis ac Syrio fragrans
olivo,
Pulvinusque
peraeque et hic et ille
Attritus,
tremulique quassa lecti
Argutatio
inambulatioque.
Nam
nil stupra valet, nihil, tacere.
Cur?
non tam latera ecfututa pandas,
Nei
tu quid facias ineptiarum.
Quare quidquid habes
boni malique,
Dic nobis. volo te ac
tuos amores
Ad
caelum lepido vocare versu.
Flávio, se a tua
amante não fosse destituída de encantos e elegância,
tu não serias
capaz de silenciar,
e a Catulo dela
falarias.
Andas, na
verdade, enleado a não sei que febril michela.
Tens vergonha de
confessá-lo.
Ora que não
passas as noites sozinho,
clama-o, embora
calado, teu leito,
rescendente a
grinaldas e a perfume sírio,
e por igual os
amachucados travesseiros,
O gemer
balouçante de teu leito desengonçado.
Pois de nada
vale deboches ocultar.
E porquê? Não
terias os flancos tao emaciados pela fornicação,
se não
praticasses loucuras.
Va, conta-me as
horas boas e más!
Glorificar-te em
verso faceto quero,
a ti e à tua
favorita.
Tradução de J. Lourenço de Carvalho em
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
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