XVI
Pedicabo ego vos et inrumabo,
Aureli pathice et cinaede Furi,
Qui me ex versiculis meis putastis,
Quod sunt molliculi, parum pudicum.
Nam
castum esse decet pium poetam
Ipsum,
versiculos nihil necessest,
Qui
tum denique habent salem ac leporem,
Si
sunt molliculi ac parum pudici
Et
quod pruriat incitare possunt,
Non dico pueris, sed his pilosis,
Qui
duros nequeunt movere lumbos.
Vos,
quom milia multa basiorum
Legistis, male me marem putatis?
Pedicabo ego vos et inrumabo.
O Aurélio
brochista, ó Fúrio paneleiro,
a vós que, sendo
meus leves versos voluptuosos, por eles devasso me julgastes,
eu vos hei-de
enrabar e embrochar.
Ora se um
autêntico poeta casto deve ser,
não é força que
seus versos o sejam.
Estes afinal
sabor e encanto hão-de ter,
se forem
galantes e nada cândidos,
e capazes de
aguilhoar desejos,
não digo nos
moços, mas nesses pilosos
que não podem já
os engrunhidos rins mover.
Vós, lá porque
lestes muitos milhares de beijos,
acaso me
considerais falto de virilidade?
Pois hei-de-vos
enrabar e embrochar.
XXI
Aureli, pater essuritionum,
Non harum modo, sed quot aut fuerunt
Aut sunt aut aliis erunt in annis,
Pedicare cupis meos amores.
Nec clam: nam simul es, iocaris una,
Haeres ad latus omnia experiris.
Frustra: nam insidias mihi instruentem
Tangem te prior inrumatione.
Atque id si faceres satur, tacerem:
Nunc ipsum id doleo, quod essurire,
A me me, puer et sitire discet.
Quare desine, dum licet pudico,
Ne finem facias, sed inrumatus.
Aurélio, ó pai das fomes,
não só das de agora, mas de quantas existiram,
existem ou existirão em anos futuros,
tu queres enrabar o meu favorito.
E nem disfarças, pois não o largas: juntos brincais,
colado a sua ilharga, de tudo lanças mão.
Embalde. Antes de ciladas rae dispores,
te há-de a minha porra a boca atafulhar.
Se o fizesse com a barriga cheia, eu calava-me;
agora o que me dói é que o meu moço
tenha de aprender a suportar a fome e a sede.
Anda lá, desiste enquanto é possível sem escândalo,
não aconteça que tenhas de acabar, mas embrochado.
XXV
Cinaede Thalle, mollior cuniculi
capillo
Vel anseris medullula vel imula
oricilla
Vel pene languido senis situque
araneoso,
Idemque Thalle turbida rapacior
procella,
Cum diva munerarios ostendit
oscitantes,
Remitte pallium mihi meum, quod
involasti,
Sudariumque Saetabum catagraphosque
Thynos,
Inepte, quae palam soles habere
tamquam avita.
Quae
nunc tuis ab unguibus reglutina et remitte,
Ne
laneum latusculum manusque mollicellas
Inusta
turpiter tibi flagella conscribillent,
Et
insolenter aestues velut minuta magno
Deprensa
navis in mari vesaniente vento.
Talo, ó paneleiro, mais mole que pêlo de coelho,
que medula de ganso, que lóbulo de orelha,
que a porra flácida dum velho e que uma teia de aranha;
ó tu, que és ao mesmo tempo mais rapinante que a túrbida
procela,
quando a lua os putanheiros bocejantes alumia,
restitui o manto quo me roubaste
e o lenço de Sétabis e os bordados da Bitínia,
que tens o hábito de ostentar, imbecil, como bens de família.
Desgruda-mos já das tuas unhas e
devolve-os,
para que chicotadas queimantes te não marquem de indignidade
o brando flancozinho e as delicadas mãozinhas,
e não estues insólito como frágil barquito
por um vento raivoso em mar grosso apanhado.
Tradução de J. Lourenço de Carvalho em
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
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