quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Carmina, de Catulo


     Carmina, de Catulo



                        LVIII.


Caeli, Lesbia nostra, Lesbia illa,
Illa Lesbia, quam Catullus unam
Plus quam se atque suos amavit omnes,
Nunc in quadriviis et angiportis
Glubit magnanimos Remi nepotes.


Célio, a minha Lésbia, aquela Lésbia,
sim, aquela Lésbia, única a quem Catulo amou
mais que a si próprio e a todos os seus,
agora nas encruzilhadas e nas vielas,
os descendentes do magnânimo Remo esfola. 



                         LXIX.

Noli admirari, quare tibi femina nulla,
Rufe, velit tenerum supposuisse femur,
Non si illam rarae labefactes munere vestis
Aut perluciduli deliciis lapidis.
Laedit te quaedam mala fabula, qua tibi fertur
Valle sub alarum trux habitare caper.
Hunc metuunt omnes neque mirum: nam mala valdest
Bestia, nec quicum bella puella cubet.
Quare aut crudelem nasorum interfice pestem,
Aut admirari desine cur fugiunt.



Não estranhes, Rufo, que nenhuma mulher
queira pôr debaixo de ti as macias coxas,
ainda quando a tentes corromper com vestidos de luxo
ou uma deleitante jóia de singular transparência.
Um boato incómodo te prejudica: consta que
um bode sanhudo das tuas axilas fez morada.
Todas o temem. E nem admira, pois é hórrido animal,
e com ele nenhuma mulher bonita se deitará.
Então, ou aniquilas esse atroz flagelo dos narizes,
ou deixas de estranhar que fujam de ti. 



Tradução de J. Lourenço de Carvalho em 
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975


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