Carmina, de Catulo
LVIII.
Caeli, Lesbia nostra, Lesbia illa,
Illa Lesbia, quam Catullus unam
Plus quam se atque suos amavit omnes,
Nunc in quadriviis et angiportis
Glubit
magnanimos Remi nepotes.
Célio, a
minha Lésbia, aquela Lésbia,
sim,
aquela Lésbia, única a quem Catulo amou
mais que a
si próprio e a todos os seus,
agora nas encruzilhadas e nas vielas,
os
descendentes do magnânimo Remo esfola.
LXIX.
Noli
admirari, quare tibi femina nulla,
Rufe,
velit tenerum supposuisse femur,
Non si
illam rarae labefactes munere vestis
Aut
perluciduli deliciis lapidis.
Laedit te quaedam mala
fabula, qua tibi fertur
Valle sub alarum trux
habitare caper.
Hunc metuunt omnes neque
mirum: nam mala valdest
Bestia,
nec quicum bella puella cubet.
Quare aut crudelem nasorum
interfice pestem,
Aut admirari desine cur
fugiunt.
Não estranhes, Rufo, que
nenhuma mulher
queira pôr debaixo de ti as macias coxas,
ainda quando a tentes
corromper com vestidos de luxo
ou uma deleitante jóia de
singular transparência.
Um boato incómodo te
prejudica: consta que
um bode sanhudo das tuas axilas fez
morada.
Todas o temem. E nem
admira, pois é hórrido animal,
e com ele nenhuma mulher bonita se
deitará.
Então, ou aniquilas esse
atroz flagelo dos narizes,
ou deixas de estranhar que
fujam de ti.
Tradução de J. Lourenço de Carvalho em
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
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