14 (VI)
Quod sum ligneus, ut vides, Priapus
et falx lignea ligneusque penis,
prendam te tamen et tenebo prensum
totamque hanc sine fraude, quantacunque est,
tormento
citharaque tensiorem
ad costam
tibi septimam recondam.
Conquanto
de pau feito - imagem dc Priapo que estás vendo –
e
embora a foice seja, também, . feita de pau, bem como o pénis,
capaz
sou de agarrar-te e ter-te fortemente dominado.
Então
(nem será crime…), esta bisarma toda, avantajada
de
cítara qual corda, ou de balista o cabo, ‘inda mais tesa,
no
cu te enterrarei, até a costela sétima
tocar.
15 (XXIII)
Quicunque
hic violam rosamve carpet
furtivumque
holus aut inempta poma,
defectus
pueroque feminaque
hac
tentigine, quam videtis in me,
rumpatur,
precor, usque mentulaque
nequiquam
sibi pulset umbilicum.
Quem
quer que colha aqui ou rosa ou violeta,
ou
leve uma hortaliça ou fruto não comprado,
rapaz
seja ou mulher, o deixo derreado:
com
toda esta tesão, que manifesta vedes,
rebentarei
seu corpo, e juro que o caralho,
com
toda a impunidade, o umbigo atingirá.
16 (XLIV)
Nolite
omnia, quae loquor, putare
per lusum mihi per iocumque dici.
deprensos
ego ter quaterque fures
omnis, non
dubitetis, irrumabo
Não
cuideis que isto tudo que vos digo
o
digo só por graça e a brincar
Terceira
ou quarta vez ladrão que apanhe,
por
certo tende que o hei-de embrochar.
17 (XLVII)
Quod
partem madidam mei videtis
per quam
significor Priapus esse,
non ros est, mihi crede, nec pruina,
sed quod sponte sua solet remitti,
cum mens est pathicae memor puellae.
O
humor que estás a ver no órgão do meu corpo
plo qual todos conhecem ser eu o deus Priapo,
não é orvalho,
não, nem crede quo geada,
mas
algo quo segrega por sua própria força,
à
mente se me vem a imagem duma puta.
18 (LXXVIII)
At di deaeque dentibus tuis escam
negent, amicae cunnilinge vicinae,
per quem puella fortis ante nec mendax
et quae solebat impigro celer passu
ad nos venire, nunc misella Landice
vix posse
iurat ambulare prae fossis.
Que os deuses e
as deusas recusem aos teus dentes
alimento,
ó
torpe mineteiro da minha boa amiga e
vizinha.
Por tua causa só, mulher outrora forte e escorreita,
que usava vir correndo aos braços meus com passo saltitante,
agora, desgraçada, queixando-se do grelo amargamente,
diz mal poder andar, que
tanto não consente o órgão cavo.
19
(IX)
Cur
obscaena mihi pars sit sine veste, requirens
quaere,
tegat nullus cur sua tela deus.
fulmen
habens mundi dominus tenet illud aperte;
nec datur
aequoreo fuscina tecta deo.
nec Mavors
illum, per quem valet, occulit ensem;
nec latet in tepido Palladis hasta sinu.
num pudet
auratas Phoebum portare sagittas?
clamne
solet pharetram ferre Diana suam?
num tegit
Alcides nodosae robora clavae?
sub tunica
virgam num deus ales habet?
quis
Bacchum gracili vestem praetendere thyrso,
quis te
celata cum face vidit, Amor?
nec mihi
sit crimen, quod mentula semper aperta est:
hoc mihi
si telum desit, inermis ero.
Perguntas porque tenho as partes pudibundas descobertas.
Sabendo fica então que nenhum deus esconde os
próprios dardos:
o deus do universo o
raio tem, que aperta em mão
segura;
ao deus do mar foi dado tridente, não porém pra que o escondesse;
nem
esconde Marte a espada, da sua
fortaleza testemunho;
nem
Palas tem guardada, na tepidez do seio, sua lança.
Acaso
cora Febo de as setas resplendentes exibir?
Acaso
as escondidas Diana vês a aljava transportar?
Acaso
tapa Alcides (*) a maça de carvalho com seus nós?
Acaso
o deus alado (* *) a vara sob a
túnica conserva?
Quem
viu Baco jamais co’a veste o grácil tirso disfarçar?
Jamais
alguém te viu, a ti, Amor, co’a face rebuçada?
Portanto,
não me acuses, por sempre a mostra
ter este caralho:
tal
dardo se me falta, não mais terás que um deus de arma privado.
(*) Hercules.
(**)
Hermes.
20 (XXXIII)
Naidas
antiqui Dryadasque habuere Priapi,
et quo
tenta dei vena subiret, erat.
nunc adeo
nihil est, adeo mea plena libido est,
ut Nymphas omnis interiisse putem.
turpe quidem factu, sed ne tentigine rumpar,
falce mihi posita fiet amica manus.
Tempo
houve em que os Priapos co’as Náiades e Dríades brincavam:
do
deus a verga tesa podia consolar-se.
Agora
nada tenho, e a ponto tal estou cheio de desejos,
que
as Ninfas todas cuido já terem perecido.
A
minha acção é torpe, mas por que
não rebente de tesão,
depondo
já a foice, da amiga mão me sirvo.
21 (LIV)
CD si scribas temonemque insuper addas,
qui medium volt te scindere, pictus erit.
Escreve
lá CD; por cima, uma rabiça lhe acrescenta:
aquele
que te fende aí tens desenhado.
22 (LIX)
Praedictum tibi ne negare possis:
si fur veneris, inpudicus exis.
Aviso
aqui te fica, que o não negues:
Se
vens como ladrão, vais paneleiro.
23 (LVI)
Derides quoque, fur, et impudicum
ostendis digitum mihi minanti?
heu heu me miserum — quid ista lignum est
quae me terribilem facit videri?
mandabo domino tamen salaci,
ut pro me velit irrumare fures.
Ladrão,
‘inda te ris das ameaças,
o
dedo malcriado me mostrando? (*)
Ó
misero de mim, que e de pau feito
aquilo
que me dá um ar temível.
Porém,
direi ao dono (ele é lascivo...)
que
embroche em meu lugar todo o ladrão.
(*)
Já os antigos costumavam fazer o gesto do digitus impudicus., i. é, com o dedo médio estendido e os dois do lado dobrados.
Petrónio (?), frg.
54
Foeda est in coitu et
brevis voluptas
et taedet Veneris statim
peractae.
Non ergo ut pecudes
libidinosae
caeci protinus irruamus
illuc
(nam
languescit amor peritque flamma);
sed sic sic sine fine
feriati
et tecum iaceamus
osculantes.
Hic nullus labor est
ruborque nullus;
hoc iuvit, iuvat et diu
iuvabit;
hoc
non deficit incipitque semper.
Do
coito o gozo é breve e sem pudor,
e
mal passa o prazer, já aborrece.
Assim,
como animais libidinosos,
não
nos lancemos, cegos, lá nos sítio,
pois
mal o ardor languesce, morre a chama;
mas
antes, em infinda e doce calma,
na
cama quero estar contigo aos beijos:
esforço
não fazemos, não coramos,
e
o que agradou, agrada e agradará,
nem
desfalece o ardor, mas recomeça.
Petrónio, frg. 33
Aurea mala mihi, dulcis
mea Martia mittis,
mittis et hirsutae munera
castaneae.
Omnia grata putem, sed si
magis ipsa venire
ornares donum, pulcra
puella, tuum.
Tu licet apportes
stringentia mala palatum,
tristia mandenti est
melleus ore sapor.
At si dissimulas, multum
mihi cara, venire,
oscula
cum pomis mitte ; vorabo libens.
Ó
minha doce Márcia: maçãs
doiradas mandas entregar-me,
e mandas-me um presente do hirsuto castanheiro.
Tudo
isso me é jucundo; porém, se me chegasses também tu,
teu dom enfeitarias, formosa
rapariga.
E mesmo que me desses maçãs que ao paladar não agradassem,
na boca, o azedo gosto em mel se verteria.
Porém, se não queres vir, mulher quo sobre todas me és querida,
c’os
pomos manda beijos: com ardor os comerei.
C. I. L., IV, 1516
Hic ego nunc futui formosam forma puellam
laudatam a multis, sed lutus into erat.
Aqui, agora mesmo, mulher
fodi de grande formosura,
de muitos tão gabada,
mas merda lá por dentro.
Tradução de Custódio Magueijo em
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
Sem comentários:
Enviar um comentário