1 (VIII)
Matronae
procul hinc abite castae:
turpe
est vos legere inpudica verba.
non
assis faciunt euntque recta:
nimirum
sapiunt videntque magnam
matronae
quoque mentulam libenter.
Daqui pra fora já! Daqui vos afastai, castas
matronas!
A vós não fica hem estas palavras ler despudoradas.
Baldado é o aviso... Não fazem caso e
acorrem pressurosas:
lá porque são matronas, não deixam de saber como é gostoso.
Também uma matrona caralho grande vê com muito agrado.
2 (LXXIII)
Obliquis quid me, pathicae, spectatis ocellis?
non stat in inguinibus mentula tenta meis.
quae tamen exanimis nunc est et inutile lignum,
utilis haec, aram si dederitis, erit.
Per medios ibit pueros mediasque puellas
mentula, barbatis non nisi summa petet.
Que estais, ó minhas putas, olhando de través
assim pra mim?
certo que entre as pernas não está este caralho agora teso:
está murcho, é bem verdade, um simples pau —
direis — sem serventia.
Garanto-vos, porém, que logo servirá,
se altar lhe derdes.
3 (X)
Insulsissima quid puella rides?
non me Praxiteles Scopasve fecit,
non sum Phidiaca manu politus;
sed lignum rude vilicus dolavit
et dixit mihi 'tu Priapus esto'.
spectas me tamen et subinde rides:
nimirum tibi salsa res videtur
adstans inguinibus columna nostris.
non me Praxiteles Scopasve fecit,
non sum Phidiaca manu politus;
sed lignum rude vilicus dolavit
et dixit mihi 'tu Priapus esto'.
spectas me tamen et subinde rides:
nimirum tibi salsa res videtur
adstans inguinibus columna nostris.
Estúpida
mulher, porque te ris?
Nem Escopas nem Praxiteles me fez,
nem Fídias me poliu com suas mãos;
grosseiro
lenho, um camponês podou-me,
dizendo-me dest’arte: “Sê Príapo”
Ainda assim me observas e te ris?
Pois deixa estar... Mais graça me acharás,
passando
a ser encosto destas v’rilhas.
4 (XXIX)
Obscaenis, peream, Priape, si non
uti me pudet inprobisque verbis.
sed cum tu posito deus pudore
ostendas mihi coleos patentes,
cum cunno mihi mentula est vocanda.
Eu morra já, Priapo, se pudor
não tenho de indecentes palavrões.
Porém, se sendo deus não te envergonhas
de aos olhos meus expor esses colhões,
o meu caralho
incito a buscar cona.
5
(XXXIX)
Forma Mercurius potest placere,
forma conspiciendus est Apollo,
formosus quoque pingitur Lyaeus,
formosissimus omnium est Cupido.
me pulcra fateor carere forma,
verum mentula luculenta nostra est:
hanc mavolt sibi quam deos priores
si qua est non fatui puella cunni.
Encanta
a formosura de Mercúrio;
Apolo, por ser belo, é celebrado;
Lieu (*) se representa mui formoso;
mais belo quo esses todos é Cupido.
Por mim, se nada devo à formosura,
senhor sou de caralho avantajado,
caralho
a que mais quer que àqueles deuses
a tipa que não for de cona insonsa
(*) O “Libertador”, ou seja, Baco.
6 (XVIII)
Commoditas haec est in nostro maxima pene,
laxa quod esse mihi femina nulla potest.
Vantagem grande tem o meu caralho:
morrer o cio não deixa da mulher.
7(L)
Quaedam, si placet hoc tibi, Priape,
fucosissima me puella ludit
et nec dat mihi nec negat daturam:
causas invenit usque differendi.
quae si contigerit fruenda nobis,
totam
cum paribus, Priape, nostris
cingemus
tibi mentulam coronis.
Escuta
0 que te digo, bom Priapo:
hipócrita mulher traz-me enganado;
favores não concede, nem mos nega,
pretextos inventando pra adiar.
Se possuir puder seu corpo um dia,
c’os
camaradas meus, ó bom Príapo,
de c’roas teu caralho enfeitarei.
8 (III) (*)
Obscure poteram tibi dicere: “da mihi, quod tu
des licet assidue, nil tamen inde perit.
da mihi, quod cupies frustra dare forsitan olim,
cum
tenet obsessas invida barba genas,
quodque Iovi dederat qui raptus ab alite sacra
miscet amatori pocula grata suo,
quod virgo prima cupido dat nocte marito,
dum timet alterius volnus inepta loci.”
simplicius multo est 'da pedicare' Latine
dicere. quid faciam? crassa Minerva mea est.
Usando de rodeios, dizer pudera: Dá-me esse prazer,
que podes sempre dar, sem dano daí vir à virgindade;”
ou “dá-me
o que algum dia ninguém te aceitará, se lho ofertares
(na
idade em que, homem feito, a barba despontar de tua face) ;”
ou “o
dom que a Jove deu aquele que ave sacra arrebatou,
e agora
ao seu amante as taças enche de licor jucundo;”
ou “dá-me
o que uma virgem, do dardo temerosa em certo sítio,
em
noite de noivado ao cúpido marido dar prefere.”
Mais
simples que isso tudo, em bom latim diria: “Dá-me 0 cu.” Desculpem, por favor, que a mais não me inspirou bronca Minerva.
(*)
De Ovídio, segundo Séneca, pai.
9 (XI)
Ne prendare cave. prenso nec fuste nocebo,
saeva nec incurva volnera falce dabo:
traiectus conto sic extendere pedali,
ut culum rugam non habuisse putes.
Cautela,
não te apanhe: não julgues que te espanco c’um porrete,
ou
golpes te darei com esta curva foice.
Deitando-te
ao comprido, c’o toro te trespasso dum bom pé,
que até
ficas cuidando que 0 cu pregas não
tem.
10
(LXIX)
Cum fici tibi suavitas subibit
et iam
porrigere huc manum libebit,
ad me respice, fur, et aestimato,
quot pondo est tibi mentulam cacandum.
Se
acaso te tentar do figo o doce gosto,
e a mão
alevantada já esteja pra colhê-lo,
ladrão,
olha pra mim, maduramente pensa
no peso
do caralho que cagarás depois.
11 (XXXVIII)
Simpliciter tibi me, quodcunque est, dicere oportet,
natura est quoniam semper aperta mihi:
pedicare volo, tu vis decerpere poma;
quod peto, si dederis, quod petis, accipies.
Dizer-te sem rodeios aquilo que quiser me é
consentido,
pois minha natureza falar me manda assim
abertamente:
Ao cu te quero ir; tu queres colher frutos
desta horta;
se dás o
que te peço, de mim receberás o
que pretendes.
12 (V)
Quam puero legem fertur dixisse Priapus,
versibus his infra scripta duobus erit:
'quod meus hortus habet sumas inpune licebit,
si dederis nobis quod tuos hortus habet.
É fama que Príapo a um moço esta lei ditou um dia,
que nestes dois versinhos aqui deixo
transcrita:
“Os frutos do meu horto colher impunemente poderás,
por troca se me deres os frutos do teu horto.” (*)
(*) É claro que
o vocábulo horto está aqui usado in malam partem, i. é, com sentido obsceno.
13 (XXV)
Hoc sceptrum, quod ab arbore est recisum
nulla et iam poterit virere fronde,
sceptrum, quod pathicae petunt puellae,
quod quidam cupiunt tenere reges,
quoi dant oscula nobiles cinaedi 18,
intra viscera furis ibit usque
ad pubem capulumque coleorum.
O ceptro (*) que possuo, assim que foi da árvore truncado,
ninguém
já poderia fazê-lo vicejar em farta fronde.
Um ceptro tal, que anseiam as putas no seu corpo ter metido,
um ceptro que alguns reis tomar em suas
mãos desejariam,
um ceptro a que dão beijos os debochados filhos de família,
— um ceptro assim, ladrão, te meto nas entranhas mais profundas,
até o baixo-ventre e o cabo dos
colhões dilacerar.
(*) Trata-se
do falo de Príapo, feito de pau.
Tradução de Custódio Magueijo em
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
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