VII
Quaeris, quot mihi basiationes
Tuae,
Lesbia, sint satis superque.
Quam magnus numerus Libyssae arenae
Lasarpiciferis iacet Cyrenis,
Oraclum Iovis inter aestuosi
Et Batti veteris sacrum sepulcrum,
Aut quam sidera multa, cum tacet
nox,
Furtivos hominum vident amores,
Tam te basia multa basiare
Vesano satis et super Catullost,
Quae nec
pernumerare curiosi
Possint nec
mala fascinare lingua.
Perguntas-me, Lésbia, quantos beijos em ti
serão bastantes para me saciar.
Ora quantos grãos de areia líbica sem conto,
juncando o solo de Cirene rica em sílfio,
entre o templo estuoso de Júpiter
e o sacro sepulcro do velho Bato (*),
ou quantas estrelas inumeráveis contemplam,
no silêncio da noite, os furtivos amores dos
homens,
tantos os incontáveis beijos em tua boca
serão bastantes para saciar o desvairo de
Catulo.
Que os indiscretos não possam somá-los
nem sua língua viperina feitiço causar (**).
(*)
Bato, fundador de Cirene, seu primeiro rei.
(**)
Ver a nota à composição V.
VIII
Miser Catulle, desinas ineptire,
Et quod vides perisse perditum ducas.
Fulsere quondam candidi tibi soles,
Cum ventitabas quo puella ducebat
Amata nobis quantum amabitur nulla,
Ibi illa multa tum iocosa fiebant,
Quae tu volebas nec puella nolebat.
Fulsere vere candidi tibi soles.
Nunc iam illa non vult: tu quoque, inpotens,
noli
Nec quae fugit sectare, nec miser vive,
Sed obstinata mente perfer, obdura.
Vale, puella. iam Catullus obdurat,
Nec te requiret nec rogabit invitam:
At tu dolebis, cum rogaberis nulla.
Scelesta, vae te! quae tibi manet
vita!
. Quis nunc te adibit? cui videberis bella?
Quem
nunc amabis? cuius esse diceris?
Quem basiabis? cui
labella mordebis?
At tu, Catulle, destinatus obdura.
Meu pobre Catulo, não faças mais de parvo,
e dá como perdido o que perdido está.
Para ti brilharam outrora dias radiosos,
quando acorrias ao apelo da tua querida,
amada como jamais nenhuma outra o será.
Então nos entregávamos a copiosos brincos de
amor.
Tudo que tu querias, ela não deixava de querer.
Sim, para ti brilharam dias radiosos.
Pois agora ela já não quer.
Faz tu da fraqueza forças: não queiras também;
não persigas quem te foge, não vivas amargurado,
mas aguenta com ânimo forte, endurece o coração.
Adeus, mulher. Catulo agora tomou resolução:
não te irá procurar nem solicitar contra tua
vontade.
Mas tu vais sofrer, quando não te quiserem para
nada.
Ai de ti, desgraçada, que vida é que te espera?
Quem te frequentará então? Quem apreciará tua
beleza?
A quem amarás então? De quem se dirá que és?
Quem beijarás? A quem morderás na boca?
Mas tu, Catulo, aguenta com firmeza.
XI
Furi et Aureli, comites Catulli,
Sive in extremos penetrabit Indos,
Litus ut longe resonante Eoa
Tunditur unda,
Sive in Hyrcanos Arabesve molles,
Seu Sacas sagittiferosve Parthos,
Sive qua septemgeminus colorat
Aequora Nilus,
Sive trans altas gradietur Alpes,
Caesaris visens monimenta magni,
Gallicum Rhenum, horribile aequor ulti-
mosque Britannos,
Omnia haec, quaecumque feret voluntas
Caelitum, temptare simul parati,
Pauca nuntiate meae puellae
Non bona dicta.
Cum suis vivat valeatque moechis,
Quos simul conplexa tenet trecentos,
Nullum amans vere, sed identidem omnium
Ilia rumpens:
Nec meum respectet, ut ante, amorem,
Qui illius culpa cecidit velut prati
Vltimi flos, praeter eunte postquam
Tactus aratrost.
Ó Fúrio, ó Aurélio, vós que vos ofereceis para
Catulo acompanhar,
…………………………………………………………………….
prontos a com ele todos estes perigos afrontar,
e outros que a vontade dos deuses reservar,
levai até junto da minha amiga
estas breves e nada gratas palavras:
Pois que viva feliz com seus amásios,
os trezentos que ela serve ao mesmo tempo,
não amando, é certo, nenhum deles,
mas estoirando, de contínuo, com as cadeiras a
todos;
que não conte, como dantes, com o meu amor,
que morreu, por culpa sua,
como à borda do prado a flor
ferida pelo arado que passa.
XV
Commendo tibi me ac meos amores,
Aureli. veniam peto pudentem,
Vt, si quicquam animo tuo cupisti,
Quod castum expeteres et integellum,
Conserves puerum mihi pudice,
Non dico a populo: nihil veremur
Istos, qui in platea modo huc modo illuc
In re praetereunt sua occupati:
Verum a te metuo tuoque pene
Infesto pueris bonis malisque.
Quem tu qua lubet, ut iubet, moveto,
Quantum vis, ubi erit foris, paratum:
Hunc unum excipio, ut puto, pudenter.
Quod si te mala mens furorque vecors
In tantam inpulerit, sceleste, culpam,
Vt nostrum insidiis caput lacessas,
A tum te miserum malique fati,
Quem attractis pedibus patente porta
Aurélio, a minha felicidade em tuas mãos
deponho.
Um pequeno favor te peço:
Se do fundo de alma, a alguém quiseste,
que desejaras casto e não tocado,
defende-me a virtude deste mancebo,
não das investidas do vulgo (nada receio
daqueles que na praça se movem dum lado
para o outro, em seus negócios ocupados),
mas é precisamente a ti que eu temo e ao teu
caralho,
infesto a rapazes castos e viciados.
Põe-no em acção onde te agrade, como te agrade,
quanto queiras, todas as vezes que ele te saia
das encolhas armado.
Creio-me razoável, só este exceptuando.
Mas se a tua loucura e uma paixão insana
te propelirem, celerado, para tamanho crime,
corrompendo, traiçoeiro, o objecto de meus
cuidados,
então, ai de ti, mísero de má fortuna!
Com as pernas afastadas, pelo cu às escâncaras,
te enfiarei rábanos e rodovalhos (*).
(*) Castigo aplicado aos adúlteros. Catulo coloca-se
na situação de marido ultrajado.
Tradução de J. Lourenço de Carvalho em
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
Sem comentários:
Enviar um comentário