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AD MATRONAS ET VIRGINES CASTAS
Quæque ades, exhortor, procul hinc, Matrona, recede:
Quæque ades, hinc pariter, virgo pudica, fuge.
Exuor, en bracis jam prosilit inguen apertis,
Et mea permulto Musa sepulta mero est.
Stet, legat et laudet versus Nichina procaces,
Adsueta et nudos Ursa videre viros.
ÀS MATRONAS E ÀS VIRGENS CASTAS
Sejas tu quem fores, Matrona, vai para bem longe; e tu também, pudica Virgem, foge. Dispo-me, da braguilha aberta sai o meu pénis; a minha Musa está desfeita pelo excesso de bebida. Quinina pode ficar, ela que leia e gabe os versos lascivos; Ursa também, habituada como ela a ver homens nus.
EPITAPHIUM NICHINÆ FLANDRENSIS, SCORTI EGREGII
Si steteris paulum, versus et legeris istos,
Hac gnosces meretrix quæ tumulatur humo.
Rapta fui e patria teneris pulchella sub annis,
Mota proci lacrymis, mota proci precibus.
Flandria me genuit, totum peragravimus orbem,
Tandem me placidæ continuere Senæ.
Nomen erat, nomen notum, Nichina; lupanar
Incolui, fulgor fornicis unus eram.
Pulcra decensque fui, redolens et mundior auro,
Membra fuere mihi candidiora nive.
Quæ melior nec erat Senensi in fornice Thais
Gnorit vibratas ulla movere nates.
Rapta viris tremula fìgebam basia lingua.
Post etiam coitus oscula multa dabam.
Lectus erat multo et niveo centone refertus,
Tergebat nervos officiosa manus.
Pelvis erat cellæ in medio, qua sæpe lavabar,
Lambebat badidum blanda Catella femur.
Nox erat, et juvenum me sollicitante caterva
Substinui centum non satiata vices.
Dulcis, amœna fui, multis mea facta placebant,
Sed præter pretium nil mihi dulce fuit.
EPITÁFIO A NIQUINA DE FLANDRES, CORTESÃ FAMOSA
Se parares um instante e leres estes versos, saberás quem é a cortesã que aqui debaixo está enterrada. Na tenra idade, deixei a minha Pátria, levada pelas lágrimas do amante, arrastada pelas suas preces. Nasci na Flandres, peregrinei por todo o mundo, por fim descansei na tranquila Siena. O meu nome era Niquina, nome famoso; estive em lupanares, fui o esplendor dos bordéis. Fui bela e agradável, perfumada e mais limpa que o ouro, com os membros mais brancos que a neve. No bordel de Siena, nenhuma Thaïs mexia melhor as nádegas do que eu. Com a língua vibrante dava beijos inflamados aos homens e até após o sexo, dava muitos beijos. O meu leito estava cheio de níveos tecidos, e a minha mão industriosa acalmava os nervos. Havia no quarto uma bacia em que frequentemente me lavava, uma cadelita mansa lambia a minha coxa húmida. Uma noite, tendo-mo pedido um grupo de jovens, aguentei uma centena de assaltos, sem ficar saciada. Fui doce e agradável, a muitos agradava a minha maneira de ser, mas a mim, nada me dava prazer, se não o dinheiro.
OPTAT PRO NICHINA DEFUNCTA
Oro tuum violas spiret, Nichina, sepulcrum,
Sitque tuo cineri non onerosa silex.
Pieriæ cantent circum tua busta puellæ.
Et Phœbus lyricis mulceat ossa sonis.
FAZ VOTOS PELA FALECIDA NIQUINA
Desejo, ó Niquina, que o teu sepulcro tenha o odor de violetas. E que sobre os teus restos não esteja uma pesada pedra. Que as jovens Piérides cantem em redor da tua tumba. E que Febo com os seus líricos cânticos acaricie os teus ossos.
De:
Hermaphroditus, de Antonio Beccadelli (Palermo, 1394 – Nápoles, 1471), dito o Panormita, isto é, Palermitano
terça-feira, 16 de novembro de 2010
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