III,68
Huc est usque tibi scriptus, matrona, libellus.
Cui sint scripta, rogas, interiora? mihi.
Gymnasium, thermae, stadium est hac parte: recede.
Exuimur:
nudos parce videre viros.
Hinc
iam deposito post vina rosasque pudore,
Quid dicat, nescit saucia Terpsichore:
Schemate nec dubio, sed aperte nominat illam,
Quam
recipit sexto mense superba Venus,
Custodem
medio statuit quam vilicus horto,
Opposita spectat quam proba virgo manu.
Si bene te novi, longum iam lassa libellum
Ponebas,
totum nunc studiosa leges.
Até aqui, digna matrona, foi escrito para ti este
livrinho.
—
“E os poemas seguintes, para quem os escreveste?” — Para mim!
Deste lado encontram-se o ginásio, as termas, o
estádio. Afasta-te!
Vamos
despir-nos. Não queiras ver homens nus.
Desde agora, sem qualquer
pudor — já veio o vinho e as rosas!—
a ébria Terpsicore já nem sabe o que diz.
Sem metáforas, abertamente falará “daquela coisa”
que no mês de Agosto Vénus acolhe dentro de si,
“aquilo” que o hortelão põe de guarda ao pomar (*),
e que casta donzela não vê sem logo o rosto cobrir.
Se bem te conheço, tu que já te cansavas dum livro tão
grande
e ias pô-lo de lado,
irás agora pressurosa lê-lo ate
ao fim!
(*) Príapo, ou melhor, o seu célebre e descomunal
atributo!
III, 80
De
nullo loqueris, nulli maledicis, Apici:
Rumor
ait linguae te tamen esse malae.
De
ninguém te queixas, Apício, nem maldizes ninguém,
mas
corre o boato de que tens cá uma língua!...
III, 81
Quid
cum femineo tibi, Baetice Galle, barathro?
Haec
debet medios lambere lingua viros.
Abscisa
est quare Samia tibi mentula testa,
Si tibi
tam gratus, Baetice, cunnus erat?
Castrandum caput est: nam sis licet inguine Gallus,
Sacra tamen Cybeles decipis: ore vir es.
Bético
eunuco, que te interessam as profundezas femininas?
Tua
língua só devia servir para lamber pichas!
Por
que cortaste o caralho com um caco de Samos,
Bético,
se afinal tanto gostavas de cona?
Tens
de castrar a cabeça, pois se nas virilhas és eunuco,
enganas
mesmo assim Cibele: és viril pela boca!
IV, 43
Non dixi, Coracine, te cinaedum:
Non sum tam temerarius nec audax
Nec mendacia qui loquar libenter.
Si dixi, Coracine, te cinaedum,
Iratam
mihi Pontiae lagonam,
Iratum
calicem mihi Metili:
Iuro
per Syrios tibi tumores,
Iuro
per Berecyntios furores.
Quid
dixi tamen? Hoc leve et pusillum,
Quod notum est, quod et ipse non negabis
,Dixi te, Coracine, cunnilingum.
Nunca
disse, ó Coracino, que tu fosses panasca:
não
sou tão temerário ou descarado
que
me ponha a mentir sem mais aquelas!
Se
eu disse, ó Coracino, que tu eras panasca,
que
me destrua o frasco de veneno de Pôntia,
que
me destrua o cálice de veneno de Metílio.
Juro-te
pelos inchaços sírios,
juro-te
pelos furores berecíntios! (* )
O
que eu de facto disse, é coisa sem importância,
de
todos conhecida, que nem tu mesmo negarás:
só
disse que és, Coracino, um lambe-conas!
(*)
Alusão ao culto asiático de Cibele, e aos seus sacerdotes eunucos.
IV, 85
Non est in populo nec urbe tota,
A se Thaida qui probet fututam,
Cum multi cupiant rogentque multi.
Tam
casta est, rogo, Thais? Immo fellat.
Nenhum
homem, de todos os que em Roma habitam,
poderá
garantir que Tais já fodeu.
E
muitos são os que a desejam e requestam.
“Quê?
Tão casta é Tais?” — Não, ela só brocha!
VII, 30
Das
Parthis, das Germanis, das, Caelia, Dacis,
Nec
Cilicum spernis Cappadocumque toros;
Et tibi de Pharia Memphiticus urbe fututor
Navigat, a rubris et niger Indus aquis;
Nec
recutitorum fugis inguina Iudaeorum,
Nec te
Sarmatico transit Alanus equo.
Qua ratione facis, cum sis Romana puella.
Quod Romana tibi mentula nulla placet?
Entregas-te,
ó Célia, a Partos, a Germanos, a Dácios
e
não desdenhas deitar-te com Cílices ou Capadócios;
para
te foder navegam Egípcios de Faros,
e
vêm do mar Vermelho negros Indianos;
não
te negas ao órgão circunciso dos Judeus
e
o Alano em seu cavalo sármata não passa por ti em vão.
Mas,
sendo tu Romana, por que bulas
é
que nunca te agrada um caralho romano?!
Tradução de José António Campos em
Antologia de poesia latina, erótica e satírica, por um grupo de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa. Fernando Ribeiro de Mello – Edições Afrodite, Lisboa, 1975
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