quarta-feira, 24 de julho de 2013

Soneto atribuído a António Lobo de Carvalho, o Lobo da Madragoa


A um frade franciscano que, namorando em Coimbra uma rapariga, indo passando pela rua, escorregou e ficou descomposto.



No burel de um Capucho amarrotado
Certa Filis emprega os olhos belos
E ele preso de amor pelos cabelos
Tão amante ficou, como arreitado.

Entra-se a espoldrinhar por vir cansado
Da insuportável carga dos disvelos,
Os óculos, as calças, os chicelos (*),
Tudo fica por terra esbandalhado.

Desmaia a Filis, vendo o que se passa,
Porque a sua inocente singeleza
Não descobre os intentos da trapaça.

O tombo foi malícia e não fineza
Que o fradinho estudou esta desgraça
Para que ela lhe visse a porra tesa.


(*) Deve haver erro de cópia no manuscrito: ou é chichelos=sapatos velhos ou chinelos.


Do livro “Discurso em honra, e favor da cornudagem”, na Assembleia Geral da Ilustre e Antiquíssima Confraria dos Senhores Cornudos, aos 22 de Maio de 1769.

Editorial Teorema, 2008

Gabinete de curiosidades – edição especial 

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