No passado dia 24
de Setembro de 2012, faleceu em Paris aos 92 anos a escritora francesa de
origem judia e polaca, Tereska Torrès, nascida Szwarc, que, embora tivesse publicado
16 livros em francês, ficou conhecida sobretudo por um livro que publicou em Inglês
nos Estados Unidos em 1950, com o título “Women’s Barracks”.
Fugiu de França para Lisboa com seus pais em 1940
e de Portugal embarcou para Inglaterra, onde se juntou às forças do General de
Gaulle, incorporando-se no Corps des
volontaires féminines, conhecido também por “Corps Féminin” (com alguma
malícia? Talvez). Tinha jeito para
escrever a pequena, e já publicara um livro aos 17 anos.
Em Londres, escrevia e guardava ciosamente um diário. Quase no
final da guerra, apaixonou-se e casou com um soldado francês, George Torrès;
mas este morreu em combate na Lorraine em Outubro de 1944, quando ela estava
grávida de cinco meses. Regressou a França e, mais tarde, casou com o escritor
e cineasta Meyer Lévin, com quem teve mais dois filhos, Gabriel Levin, poeta e
tradutor, e Mikael Levin, fotógrafo. Entretanto, continuava a publicar novelas
em francês. Lendo o diário da estadia de sua mulher em Londres, Levin incitou-a
a escrever uma novela a partir dele. Depois, traduziu o texto para Inglês e confiou-o
à editora americana Gold Metal Books, que o publicou em edição original de
bolso, com o título “Women’s Barracks” e uma capa sugestiva que vale a pena
espreitar aqui.
Para surpresa da autora, foi um escândalo. Até então, ninguém
escrevera nada de minimamente erótico sobre homossexualidade feminina. O livro
vendeu 4 milhões só nos Estados Unidos. Foi depois proibido no Canadá e nalguns
Estados dos USA. Uma reacção que hoje consideramos muito exagerada, quando
lemos o trecho mais erótico do livro, que transcrevo a seguir.
A autora não gostava muito que a considerassem
uma autora de livros sobre lesbianismo. Disse ela numa entrevista ao Salon em
2005:
I remember first of all the book came
out in America when I was still in Paris. I was overwhelmed by the idea that
they had published 200,000 copies of it. I couldn't believe it. And I went to
see this man at Fawcett. Nobody said “lesbian” to me, nobody mentioned it. All
I knew is that they all said it was terribly shocking, and I didn't know why
they said that. I thought I had written a very innocent book. I thought, these
Americans, they are easily shocked.
Afinal, ela havia-se limitado a contar a vida
das moças nas casernas em Londres, onde a sexualidade era importante e havia
uma ou outra fufa. Mas o livro está bem escrito e foca também outros problemas
da juventude feminina.
Ursula felt herself
very small, tiny against Claude, and at last she felt warm. She placed her
cheek on Claude’s breast. Her heart beat violently, but she didn't feel afraid.
She didn't understand what was happening to her. Claude was not a man; then
what was she doing to her? What strange movements! What could they mean? Claude
unbuttoned the jacket of her pajamas, and enclosed one of Ursula’s little
breasts in her hand, and then gently, very gently, her hand began to caress all
of Ursula’s body, her throat, her shoulders, and her belly. Ursula remembered a
novel that she had read that said of a woman who was making love, “Her body
vibrated like a violin.” Ursula had been highly pleased by this phrase, and now
her body recalled the expression and it too began to vibrate. She was stretched
out with her eyes closed, motionless, not daring to make the slightest gesture,
indeed not knowing what she should do. And Claude kissed her gently, and
caressed her.
How amusing she
was, this motionless girl with her eyelids trembling, with her inexperienced
mouth, with her child’s body! How touching and amusing and exciting! Claude
ventured still further in discovering the body of the child. Then, so as not to
frighten the little one, her hand waited while she whispered to her, “Ursula,
my darling child, my little girl, how pretty you are!” The hand moved again.
Ursula didn't feel
any special pleasure, only an immense astonishment. She had loved Claude’s mouth, but now she felt
somewhat scandalized. But little by little, as Claude continued her slow
caressing, Ursula lost her astonishment. She kept saying to herself, I adore
her, I adore her. And nothing else counted. All at once, her insignificant and
monotonous life had become full, rich, and marvelous. Claude held her in her
arms, Claude had invented these strange caresses, Claude could do no wrong.
Ursula wanted only one thing, to keep this refuge forever, this warmth, this
security.
PS. Tinha pensado escrever esta nota, quando
dei conta que José Cutileiro tinha escolhido esta personagem para o seu
obituário habitual no Expresso de hoje, dia 29 de Setembro, que está muito bem
escrito. Mas ponho-o na mesma aqui, com os textos em Inglês, que são mais
incisivos.
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