In colonias brasilienses, vel sodomitas a Lusitanis missos in Brasiliam
Descende cœlo turbine flammeo
Armatus iras, Angele, vindices,
Libidinum jam notus ultor
Exitio Sodomæ impudicæ.
En rursus armis quod pereat tuis
Lustrum Gomorrhæ suscitat semulum
Syrum propago, et exsecrandæ
Spurcitiæ renovat palæstram.
Pars ista mundi, quam sibi propriam
Sedem dicavit mollis amœnitas
Luxusque, sub fœdis colonis
Servitium tolerat pudendum.
Abominandis arsit amoribus
Strigosus æstu, pauperie et fame,
Glandis vorator, virulentum
E raphanis redolens odorem.
Quem, rere, ponet nequitiæ modum
Frenis libido libera? et insolens
Humanioris ferre victus
Illecebras meliore cœlo?
O Christiani infamia nominis!
O fœda labes et nota temporum!
O turpium turpisque causa, et
Exitus, et pretium laborum!
Ignota rostris verrimus æquora,
Gentes quietas sollicitavimus
Terrore belli, orbisque pacem
Miscuimus misero tumultu.
Per ferrum et ignes et mare naufragum
Secreta rerum claustra refregimus,
Ne deesset impuris cinædis
Prostibulum Veneris nefandæ.
Gens illa nullos mitis in hospites,
Et ora victu assueta nefario,
Portenta conspexit Cyclopum
Sanguinea dape fœdiora.
Nunc Scylla sævos exsere nunc canes,
Nunc nunc Charybdis vórtice spumeo
Convolve fluctus, et carinas
Flagitiis gravidas resorbe.
Aut hisce tellus in patulos specus,
Ætherve flammis perde sequacibus
Turpes colonos, Christianæ
Dedecus opprobriumque terræ.
Contra as colônias brasileiras ou sodomitas
Baixa do céu em rubro turbilhão
Armado, ó Anjo, de ira vingadora,
Punidor já conhecido da luxúria
Na assolação da impúdica Sodoma.
Eis que de novo (pereça ele sob tuas armas!)
A linhagem dos Sírios ergue um alcouce
Que Gomorra arremeda,
E renova a academia da abominável sujeira.
Essa parte do mundo, que a mole deleitação
E luxúria destinaram como sua própria morada,
Sob infames colonos suporta
Vergonhosa servidão.
Esmirrado co’ a canícula, a pobreza e a fome
Abrasou‐se em amores abomináveis
O comilão de glande, que fede ao peçonhento
Bodum dos rábãos.
Cuidas que porá algum freio ao desbragamento
A sensualidade livre e solta? E nada afeita
A sentir os amavios de uma vida mais civilizada
Sob um céu melhor?
Ó vergonha do nome cristão!
Ó indigno labéu e mancha do nosso tempo!
Ó infame causa das infâmias,
Das canseiras prêmio e fruto infame!
Co’ as proas singramos mares ignotos,
Inquietamos tranquilos povos co’ o terror da guerra
E com triste alvoroço
Perturbamos a paz do mundo.
Cruzando as águas procelosas, a ferro e fogo
Quebrantamos os secretos ferrolhos da Natura,
Para que aos impuros sodomitas não faltasse
Um bordel de amor nefando.
Aquele povo nada afável co’ os forasteiros
E aquelas bocas costumadas a mantença abominável,
Contemplou monstruosidades mais asquerosas
Que os sanguinosos manjares dos Ciclopes.
Agora, ó Cila, mostra agora os ferozes cães,
Agora, Caríbdis, faz girar as vagas
Em remoinhos de espuma, e traga as naus
Pejadas de ignomínia.
Ou abre‐te em largas fendas, ó terra,
Ou, ó ar, reduz a cinza com incessantes chamas
Os infames colonos, desdouro e opróbrio
Da cristandade.
Tradução do Prof. Doutor António Guimarães Pinto, da Universidade Federal do Amazonas, em "O Brasil do século XVI na poesia novilatina do escocês George Buchanan" na Revista Ágora. Estudos Clássicos em Debate 14 (2012) 243‐284 — ISSN: 0874‐5498, da Universidade de Aveiro.