Fui apalpar os tomates
Que tinha
o meu hortelão,
Mostrou-me o nabal
que tinha,
Meteu-me o nabo na mão.
Sou mestra na agricultura,
Tenho terra para cavar,
Gosto sempre de apalpar
Se a enxada
é mole ou dura.
Ser
amiga da verdura
Não são nenhuns disparates;
Enchi alguns
açafates
De tomateiros
de cama.
Depois
de apalpar a rama
Fui
apalpar os tomates.
As sementes tomateiras
Nascem por dentro e por fora,
Semeiam-se
a toda a hora
Dentro de fundas regueiras.
Tão brilhantes sementeiras
Dão gosto
e satisfação.
Dentro
do meu regueirão
Dão-me
as ramas pelos joelhos;
Que tomates
tão vermelhos
Que tinha
a meu hortelão!
Só de vê-los e apalpá-los
Faz andar a gente louca,
Faz crescer água na boca
E a boca dar estalos.
Meu hortelão tem regalos,
Tem hortaliça fresquinha;
No vale da carapinha
Tem um tomateiro macho.
Abriu-me a porta
de baixo,
Mostrou-me o nabal que tinha.
Tinha grelos e nabiças,
Tinha tomates graúdos,
Tinha nabos ramalhudos
Com as cabeças roliças.
Tão brilhantes hortaliças
Meteram-me tentação;
Era franco a hortelão,
Deu-me uma couve amarela
Para me dar gosto à panela
Meteu-me o nabo na mão.
António Maria Eusébio ou Eusébio
Calafate, conhecido como
“O Cantador de Setúbal” (1820-1911)
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