terça-feira, 29 de dezembro de 2009

B O C A G E II




Não tendo que fazer Apolo um dia

Não tendo que fazer Apolo um dia
Às Musas disse: "Irmãs, é benefício
Vadios empregar, demos ofício
Aos sócios vãos da magra Academia!"

"O Caldas satisfaça à padaria;
O França d'enjoar tenha exercício,
E o autor do entremez do Rei Egípcio
O Pégaso veloz conduza à pia!"

"Vá na Ulisseia tasquinhar o ex-frade:
Da sala o Quintanilha acenda as velas,
Em se juntando alguma sociedade!"

"Bernardo nénias faça, e cague nelas;
E Belmiro, por ter habilidade,
Como d'antes trabalhe em bagatelas!"



Rapada, amarelenta, cabeleira,

Rapada, amarelenta, cabeleira,
Vesgos olhos, que o chá, e o doce engoda,
Boca, que à parte esquerda se acomoda,
(Uns afirmam que fede, outros que cheira):

Japona, que da ladra andou na feira;
Ferrugento faim, que já foi moda
No tempo em que Albuquerque fez a poda
Ao soberbo Hidalcão com mão guerreira:

Ruço calção, que esporra no joelho
Meia e sapato, com que ao lodo avança,
Vindo a encontrar-se c'o esburgalhado artelho:

Jarra, com apetites de criança;
Cara com semelhança de besbelho;
Eis o bedel do Pindo, o doutor França.



Pilha aqui, pilha ali, vozeia autores,

Pilha aqui, pilha ali, vozeia autores,
Montesquieu, Mirabeau, Voltaire, e vários;
Propõe sistemas, tira corolários,
E usurpa o tom d'enfáticos doutores:

Ciência de livreiros e impressores
Tem da vasta memória nos armários;
E tratando os cristãos de visionários,
Só rende culto a Vênus, e aos Amores:

A mulher, que a barriga lhe tem forra
Do jugo da vital necessidade,
Deixa em casa gemer como em masmorra:

Este biltre, labéu da humanidade,
É um tal bacharel Leitão de borra,
Lascivo como um burro, ou como um frade.



Não chores, cara esposa, que o Destino

Não chores, cara esposa, que o Destino
Manda que parta, à guerra me convida;
A honra prezo mais que a própria vida,
E se assim não fizera, fora indigno.

"Eu te acho, meu Conde, tão menino
Que receio..." — Ah! Não temas, não, querida;
A francesa nação será batida,
Este peito, que vês, é diamantino.

"Como é crível que sejas tão valente?..."
Eu herdei o valor de avós, e pais,
Que essa virtude tem a ilustre gente.

"Porém se as forças desiguais...?"
Irra, Condessa! És muito impertinente!
Tornarei a fugir, que queres mais?



Se quereis, bom Monarca, ter soldados

Se quereis, bom Monarca, ter soldados
Para compor lustrosos regimentos,
Mandai desentulhar esses conventos
Em favor da preguiça edificados:

Nos Bernardos lambões, e asselvajados
Achareis mil guerreiros corpulentos;
Nos Vicentes, nos Neris, e nos Bentos
Outros tantos, não menos esforçados:

Tudo extingui, senhor: fiquem somente
Os Franciscanos, Loios, e Torneiros,
Do Centimano aspérrima semente:

Existam estes lobos carniceiros,
Para não arruinar inteiramente
Putas, pívias, cações, e alcoviteiros.



Veio Muley — Achmet marroquino

Veio Muley — Achmet marroquino
Com duros trigos entulhar Lisboa;
Pagava bem, não houve moça boa
Que não provasse o casco adamantino:

Passou a um seminário feminino,
Dos que mais bem providos se apregoa,
Onde a um frade bem fornida ilhoa
Dava d'esmola cada dia um pino:

Tinha o mouro fodido largamente,
E já bazofiando com desdouro
Tratava a nação lusa d'impotente:

Entra o frade, e ao ouvi-lo, como um touro
Passou tudo a caralho novamente,
E o triunfo acabou no cu do mouro.

Inocêncio afirma que este soneto poderá ser da autoria do desembargador Domingos Monteiro d'Albuquerque e Amaral. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004


Uma noite o Scopezzi mui contente

Uma noite o Scopezzi mui contente
(Depois de borrifar a sacra espada
Que traz de rubra fita pendurada
Com cuspo, e vinho, que vomita quente):

Conversava co'a esposa em voz tremente
Sobre a grande ventura inesperada
De ser a sua Plácida adorada
Por um Marquês tão rico, e tão potente:

A velha lhe replica: Isso é verdade;
Enquanto moça for, nunca o dinheiro
Faltará nesta casa em quantidade.

"Mas tu sempre és o tafulão primeiro:
Pois tendo cabrão sido noutra idade,
És agora o maior alcoviteiro!"



Quando do grão Martinho a fatal Marca

Quando do grão Martinho a fatal Marca
O termo fez soar no seu chocalho,
Levou três dias a passar caralho
Do medonho Caronte a negra barca;

Eis no terceiro dia o padre embarca,
E o velho, que a ninguém faz agasalho,
Em prêmio quis só ter do seu trabalho
O gáudio de ver porra de tal marca:

Pegou-se ao cão trifauce a voz na goela
Ao ver de membro tal as dianteiras,
E Plutão a mulher pôs de cautela:

Porém Dido gritou às companheiras:
"Agora temos porra; a ela, a ela,
Que as horas de prazer voam ligeiras!"



Dizendo que a costura não dá nada,

Dizendo que a costura não dá nada,
Que não sabe servir quem foi senhora,
A impulsos da paixão fornicadora
Sobe d'alcoviteira a moça a escada.

Seus desejos lhe pinta a malfadada,
E a tabaquanta velha sedutora
Diz-lhe: "Veio menina, em bela hora,
Que essas, que aí tenho, já não ganham nada".

Matricula-se aqui a tal pateta,
Em punhetas e fodas se industria,
Enquanto a mestra lhe não rifa a greta:

Chega, por fim, o fornicário dia;
E em pouco a menina de muleta
Passeia do hospital na enfermaria.



Que fio de ouro, que cabelo ondado,

Que fio de ouro, que cabelo ondado,
piolhos não criou, lêndeas não teve?
Que raio de olhos blasonar se atreve,
que não foi de remelas mal tratado?

Que boca se acha ou que nariz prezado
aonde monco ou escarro nunca esteve?
E de que cristal ou branca neve
não se viu seu besbelho visitado?

Que papo de mais bela galhardia
que um dedo está do cu só dividido,
não mijou e regra tem todos os meses?

Pois se amor é tudo merda e porcaria,
e por este monturo andais perdido,
cago no amor e em vós trezentas vezes.

Soneto ausente na edição da Caixotim.

Se o grão serralho do Sophi potente,

Se o grão serralho do Sophi potente,
Ou do Sultão feroz, que rege a Trácia,
Mil Vênus de Geórgia, oh! da Circássia
Nuas prestasse ao meu desejo ardente:

Se negros brutos, que parecem gente,
Ministros fossem de lasciva audácia,
Inda assim do ciúme a pertinácia
No peito me nutria ardor pungente:

Erraste em produzir-me, oh! Natureza,
Num país onde todos fodem tudo,
Onde leis não conhece a porra tesa!

Cioso afecto, afecto carrancudo!
Zelar moças na Europa é árdua empresa,
Entre nós ser amante é ser cornudo.



Não te crimino a ti, plebe insensata,

Não te crimino a ti, plebe insensata,
A vã superstição não te crimino;
Foi natural, que o frade era ladino,
É esperta em macaquices a beata:

Só crimino esse herói de bola chata,
Que na escola de Marte inda é menino,
E ao falso pastor, pastor sem tino,
Que tão mal das ovelhas cura, e trata:

Ítem, crimino o respeitável Cunha,
Que a frias petas crédito não dera,
A ser filósofo, como supunha:

Coitado! Protestou com voz sincera
Fazer geral, contrita caramunha,
Porém ficou pior que d'antes era!



De c'roa virginal a fronte ornada,

De c'roa virginal a fronte ornada,
Em lúgubres mortalhas envolvida
A beata fatal jaz estendida,
De assistentes contritos rodeada:

Um se tem por já salvo em ter chegada
Ao lindo pé a boca comovida
Outro protesta reformar a vida:
Porém ela respira, e está corada!

Que é santa, e que morreu, com juramentos
Afirma audaz o façanhudo frade
E que prodígios são seus movimentos

O devoto auditório se persuade:
Renovam-se os protestos e os lamentos:
Triste religião! Pobre cidade!

Miguel Tibério Pedegache. Não é de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Acredite, sentado aos quentes lares

Acredite, sentado aos quentes lares
Nas noites invernosas de Janeiro,
Lendo em Carlos Magno o sapateiro
As proezas cruéis dos doze Pares:

Creiam que vêm as bruxas pelos ares
A chupar as crianças no traseiro;
Comam quanto lhes diz o gazeteiro,
De casos, de sucessos singulares:

Porém, que uma beata amortalhada,
Com a cara vermelha e corpo mole,
E santa por um frade apregoada:

Que respire, que os braços desenrole,
E seja por defunta acreditada,
Isto somente em Évora se engole!

Miguel Tibério Pedegache. Não é de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Tendo o terrível Bonaparte à vista

Tendo o terrível Bonaparte à vista,
Novo Aníbal, que esfalfa a voz da Fama,
"Oh capados heróis!" (aos seus exclama
Purpúreo fanfarrão, papal sacrista):

"O progresso estorvai da atroz conquista
Que da filosofia o mal derrama?..."
Disse, e em férvido tom saúda, e chama,
Santos surdos, varões por sacra lista:

Deles em vão rogando um pio arrojo,
Convulso o corpo, as faces amarelas,
Cede triste vitória, que faz nojo!

O rápido francês vai-lhe às canelas;
Dá, fere, mata: ficam-lhe em despojo
Relíquias, bulas, merdas, bagatelas.


Para iludir o suspirado encanto,

Para iludir o suspirado encanto,
Por quem debalde há longo tempo ardia,
"Um ninho achei, oh Lésbia (eu lhe dizia)
Como é dos pais delicioso o canto!"

Assim doloso me expressava, em quanto
Um alegre alvoroço em Lésbia eu via:
"Ah! onde o deparaste?" (ela inquiria)
"Vem (lhe torno) comigo ao pé do acanto":

Por um bosque me fui co'os meus amores,
Pergunta aos ramos pelo implume achado,
E respondendo só vão meus furores.

Conhece... quer fugir ao laço armado,
Na encosta a vergo, que afofavam flores,
Beijo-lhe as iras... fique o mais calado.

Soneto ausente na edição da Caixotim. Deverá ser de Pedro José Constâncio.

Fiado no fervor da mocidade,

Fiado no fervor da mocidade,
Que me acenava com tesões chibantes,
Consumia da vida os meus instantes
Fodendo como um bode, ou como um frade.

Quantas pediram, mas em vão, piedade
Encavadas por mim balbuciantes!
Ficando a gordos sessos alvejantes
Que hemorróidas não fiz nesta cidade!

À força de brigar fiquei mamado;
Vista ao caralho meu, que de gaiteiro
Está sobre os colhões apatetado:

Oh Numen tutelar do mijadeiro!
Levar-te-ei, se tornar ao teso estado,
Por oferenda espetado um parrameiro.

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Provavelmente do primeiro. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Eu foder putas?... Nunca mais, caralho!

Eu foder putas?... Nunca mais, caralho!
Hás de jurar-mo aqui, sobre estas Horas:
E vamos, vamos já!... Porém tu choras?
"Não senhor (me diz ele) eu não, não ralho":

Batendo sobre as Horas como um malho,
"Juro (diz ele) só foder senhoras,
Das que abrem por amor as tentadoras
Pernas àquilo, que arde mais que o alho".

Co'a força do jurar esfolheando
O sacro livro foi, e a ardente sede
O fez em mar de ranho ir soluçando...

Ah! que fizeste? O céu teus passos mede!
Anda, herético filho miserando,
Levanta o dedo a Deus, perdão lhe pede!

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Da autoria do primeiro. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

"Ora deixe-me, então... faz-se criança?

"Ora deixe-me, então... faz-se criança?
Olhe que eu grito, pela mãe chamando!"
Pois grite (então lhe digo, amarrotando o
Saiote, que em baixá-lo irada cansa):

Na quente luta lhe desgrenho a trança
A anágua lhe levanto, e fumegando,
As estreitadas bimbas separando
Lhe arrimo o caralhão, que não se amansa:

Tanto a ser gíria, não gritava a bela:
Que a cada grito se escorvava a porra,
Fazendo-lhe do cu saltante pela!

— Há de pagar-me as mangações de borra,
Basta de cono, ponha o sesso à vela,
Que nele ir quero visitar Gomorra.

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Provavelmente do primeiro. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Pela rua da Rosa eu caminhava

Pela rua da Rosa eu caminhava
Eram sete da noite, e a porra tesa;
Eis puta, que indicava assaz pobreza,
Co'um lencinho à janela me acenava:

Quais conselhos? A porra fumegava;
"Hei de seguir a lei da natureza!"
Assim dizia e efeituou-se a empresa;
Prepúcio para trás a porta entrava:

Sem que saúde a moça prazenteira
Se arrima com furor não visto à crica,
E a bela a mole-mole o cu peneira:

Ninguém me gabe o rebolar d'Anica;
Esta puta em foder excede à Freira,
Excede o pensamento, assombra a pica!



"Apre! não metas todo... Eu mais não posso..."

"Apre! não metas todo... Eu mais não posso..."
Assim Márcia formosa me dizia;
— Não sou bárbaro (à moça eu respondia)
Brandamente verás como te coço:

"Ai! por Deus, não... não mais, que é grande! e grosso!"
Quem resistir ao seu falar podia
Meigamente o coninho lhe batia;
Ela diz "Ah meu bem! meu peito é vosso!"

O rebolar do cu (ah!) não te esqueça
Como és bela, meu bem! (então lhe digo)
Ela em suspiros mil a ardência expressa:

Por te unir fazer muito ao meu umbigo;
Assim, assim... menina, mais depressa!...
Eu me venho... ai Jesus!... vem-te comigo!

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004


Vem cá, minha Marília, tão roliça,

Vem cá, minha Marília, tão roliça,
So'as bochechas da cor do meu caralho,
Que eu quero ver se os beiços embaralho
Co'esses teus, onde amor a ardência atiça:

Que abrimentos de boca! Tens preguiça?
Hospeda-me entre as pernas este malho,
Que eu te ponho já tesa como um alho;
Ora chega-te a mim, leva esta piça...

Ora mexe... que tal te sabe, amiga?
Então foges c'o sesso? É forte história!
Ele é bom de levar, não, não é viga.

"Eu grito!" (diz a moça merencória).
Pois grita, que espetada nesta espiga
Com porrais salvas cantarei vitória.

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Dormia a sono solto a minha amada,

Dormia a sono solto a minha amada,
Quando eu pé ante pé no quarto entrava:
E ao ver a linda moça, que arreitava,
Sinto a porra de gosto alvoroçada:

Ora do rosto eu vejo a nevada
Pudibunda bochecha, que encantava;
Outrora nas maminhas demorava
Sôfrega, ardente vista embasbacada:

Porém vendo sair dentre o vestido
Um lascivo pezinho torneado,
Bispo-lhe as pernas e fiquei perdido:

Vai senão quando, o meu caralho amado
Bem como Enéias acordava Dido,
Salta-lhe ao pêlo, pra seguir seu fado.

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004


Eram oito do dia; eis a criada

Eram oito do dia; eis a criada
Me corre ao quarto, e diz "Aí vem menina
Em busca sua; faces de bonina,
Olhos, que quem os viu não quer mais nada".

Eis me visto, eis me lavo, e esta engraçada
Fui ver incontinenti; oh céus! que mina!
Que breve pé! Que perna tão divina!
Que maminhas! que rosto! Oh, que é tão dada!

A porra nos calções me dava urros;
Eis a levo ao meu leito, e ela rubente
Não podia sofrer da porra os murros;

"Ai!... Ai!... (de quando em quando assim se sente)
Uma porra tamanha é dada aos burros,
Não é porra capaz de foder gente".

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Pela escadinha de um courão subindo

Pela escadinha de um coirão subindo
Parei na sala onde não entra o pejo;
Chinelo aqui e ali suado vejo,
E o fato de cordel pendente, rindo;

Quando em miséria tanta reflectindo
Estava, me apareceu ninfa do Tejo,
Roendo um fatacaz de pão com queijo,
E para mim num ai vem rebolindo:

Dá-me um grito a razão: — "Eia, fujamos,
Minha porra infeliz, já deste inferno...
Mas tu respingas? Tenho dito, vamos..."

Eis a porra assim diz: — "Com ódio eterno
Eu, e os sócios colhões em ti mijamos;
Para baixo do umbigo eu só governo".

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Eram seis da manhã; eu acordava

Eram seis da manhã; eu acordava
Ao som de mão, que à porta me batia;
"Ora vejamos quem será"... dizia,
E assentado na cama me zangava.

Brando rugir da seda se escutava,
E sapato a ranger também se ouvia...
Salto fora da cama... Oh! que alegria
Não tive, olhando Armia, que arreitava!

Temendo venha alguém, a porta fecho:
Co'um chupão lhe saudei a rósea boca,
E na rompente mama alegre mexo:

O caralho estouvado o cono aboca;
Bate a gostosa greta o rubro queixo,
E a matinas de amor a porra toca.

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

"Mas se o pai acordar!..." (Márcia dizia

"Mas se o pai acordar!..." (Márcia dizia
A mim, que à meia-noite a trombicava)
"Hoje não..." (continua, mas deixava
Levantar o saiote, e não queria!)

Sempre em pé a dizer: "Então, avia..."
Sesso à parede, a porra me agüentava:
Uma coisa notei, que me arreitava,
Era o calçado pé, que então rangia:

Vim-me, e assentado num degrau da escada,
Dando alimpa ao caralho, e mais à greta
Nos preparamos para mais porrada:

Por variar, nas mãos meti-lhe a teta;
Tosse o pai, foge a filha... Oh vida errada!
Lá me ficou em meio uma punheta!

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Provavelmente do primeiro. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Quando no estado natural vivia

Quando no estado natural vivia
Metida pelo mato a espécie humana,
Ai da gentil menina desumana,
Que à força a greta virginal abria!

Entrou o estado social um dia;
Manda a lei que o irmão não foda a mana,
É crime até chuchar uma sacana,
E pesa a excomunhão na sodomia:

Quanto, lascivos cães, sois mais ditosos!
Se na igreja gostais de uma cachorra,
Lá mesmo, ante o altar, fodeis gostosos:

Enquanto a linda moça, feita zorra,
Voltando a custo os olhos voluptuosos,
Põe no altar a vista, a idéia em porra.

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Provavelmente do primeiro. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Uma empada de gálico à janela,

Uma empada de gálico à janela,
Fazendo meia, alinhavando trapos,
Enquanto a guerra faz tudo em farrapos,
Pondo o honrado a pedir, e a virgem bela!

Vai a trombuda, sórdida Michela
Fazendo guerra a marujais marsapos,
E sem que deste mil lhe façam papos,
C'o sesso também dá às porras trela:

Tudo em metal por dois canais ajunta;
Recrutas nunca teme, e do Castelo
Se ri, que aos beleguins as mãos lhes unta:

Nas públicas funções vai dar-se ao prelo:
Minh'alma agora, meu leitor, pergunta
Se o ser puta não é ofício belo?

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

Com que mágoa o não digo! Eu nem te vejo,

Com que mágoa o não digo! Eu nem te vejo,
Meu caralho infeliz! Tu, que algum dia
Na gaiteira amorosa filistria
Foste o regalo do meu pátrio Tejo!

Sem te importar o feminino pejo,
Traz a mimosa virgem, que fugia,
Ficando à terna, afadigada Armia,
Lhe pespegavas no coninho um beijo:

Hoje, canal de fétida remela,
O misantropo do país das bimbas,
Apenas olhas cândida donzela!

Deitado dos colhões sobre as tarimbas,
Só co'a memória em feminil canela
Às vezes pívia casual cachimbas.

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Provavelmente do primeiro. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004


Que eu não possa ajuntar como o Quintela

Que eu não possa ajuntar como o Quintela
É coisa que me aflige o pensamento;
Desinquieta a porra quer sustento,
E a pívia trata já de bagatela:

Se n'outro tempo houve alguma bela
Que o amor só desse o cono penugento,
Isso foi, já não é; que o mais sebento
Cagaçal quer durázia caravela:

Perdem saúde, bolsa, e economia;
Nunca mais me verão meu membro roto;
Está aí minha porral filosofia.

Putas, adeus! Não sou vosso devoto;
Co'um sesso enganarei a fantasia,
Numa escada enrabando um bom garoto.

Soneto copiado por Inocêncio de um caderno que continha indistintamente composições de Pedro José Constâncio e de Bocage. Da autoria do primeiro. Daniel Pires. Edições Caixotim, 2004

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